Cartas para ninguém (41, 42, 43 e 44)



- 41
Humm, eu escrevi 41 e me lembrei da música #41 do Dave Matthews Band que você sempre tinha em alguma playlist, ou em algum CD.
Até esqueci o que eu ia escrever.
Talvez amanhã eu lembre.


- 42
Sai com a Karen.
Acho que você ia gostar dela.
Ela é muito simpática, gentil e até que bonita.
Tomamos um café em uma padaria e comemos um x-salada cada.
Ela disse que gostou e se divertiu bastante.
Que adoraria sair comigo outra vez.
Antes de nos separarmos eu me aproximei e dei um beijo suave em sua boca. Ela sorriu.
Ela sorriu.


- 43
Hoje o meu chefe me disse que vai mesmo fechar a locadora. Em no máximo dois meses ele estará em alguma praia descansando.
Vamos abrir normalmente até o final do mês porque o aluguel já está pago e vamos avisar os clientes do “encerramento de atividades”. Essa é a mensagem oficial, ele disse.
No próximo mês os DVDs vão ser empacotados e levados para o meu apartamento. Segundo ele, não quer mais ver uma capa de DVD na frente dele por um bom tempo ou mesmo assistir qualquer coisa.
As últimas contas vão ser acertadas e eu estarei dispensado.
Como se isso fosse nobre, como um soldado voltando da guerra.
Ele me falou que se eu quiser posso abrir o meu próprio negócio, tem um salão pequeno do lado da locadora que ele conseguiu pela metade do preço pra mim. Eu poderia vender os DVDs e os livros e revistas que ele também vai se desfazer.
Ou eu posso trabalhar como gerente no supermercado do irmão mais novo dele.
A decisão é minha.


- 44
Eu e a Karen meio que começamos a namorar. Ela até está ajudando a empacotar os DVDs.
Ela acha que eu devia tentar montar o meu próprio negócio. Até porque, se eu não conseguir manter, a vaga no mercado está assegurada.
Acho que vou fazer isso mesmo.
Agora o apartamento está menos silencioso. Mas não é a mesma coisa sem você.
Não mesmo.


Parte 11 do conto de Lucas Beça

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