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Hoje eu
fui na minha primeira reunião com os outros viciados.
É bem
simples, você compartilha e ouve o que os outros compartilham. Talvez isso te
motive. Estou sem fumar faz quatro dias. E está sendo um perrengue.
Lá tem
várias figuras, mas o mais estranho é o cara viciado em beber água.
Sério,
água. Na verdade eu não devia estar tirando sarro disso. O cara tem tanto
descontrole que ele bebe e bebe água a ponto de passar mal. Já chegou a ir pro
hospital por isso.
Essa
manhã eu me livrei do último maço que eu tinha aqui em casa, dentro de uma
gaveta.
Um dia
de cada vez.
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Tirando
o som da televisão, aqui em casa é um completo silêncio.
Eu
sinto falta da sua voz.
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Eu não
tenho mais ido visitar você porque eu não aguento mais te ver definhando
naquela cama de hospital.
Desculpe,
mas não dá.
Toda
vez que eu entro naquele quarto, com aquele cheiro que todos os hospitais têm,
e vejo você lá, cada vez mais magra, os braços imóveis, o rosto desidratado, o
tubo na sua garganta, a máscara de oxigênio, o fraco barulho do batimento
cardíaco que sai dos aparelhos, os soros que entram pelas suas veias...
Eu
consegui por um tempo, mas acho que não dá mais.
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Uma das
clientes me chamou pra sair, acredita? O nome dela é Karen. Ela tem cabelo
curto, loiro, sempre veste jeans e uma blusa com capuz. Parece tímida, fala
pouco, mas hoje ela me chamou pra sair com ela.
Deixou
o número e disse pra eu ligar pra ela hoje.
O que
você diria pra mim? Será que eu devo ligar? Não estou muito no clima de
encontro, ou só um café, ou seja lá o que for...
Não
tenho ninguém mais com quem conversar, a não ser você, que não pode responder.
O meu
chefe? O Robinson? A minha mãe? Meu Deus, quantas poucas pessoas eu tenho na
minha vida. E você era a mais especial.
Que
merda.
Parte 10 do conto de Lucas Beça
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