+ uma 4-feira



Roberto ouvia metal pesado.

Deitado em sua cama, nada além do som em seus ouvidos. Nada existia.


Nada.

Sua cabeça movia um pouco no ritmo da música.

Assim como suas pernas.

Encheu os pulmões de ar.

E soltou.

Alguém tirou um dos fones.

“Eu nunca mais vou voltar aqui. Tá me ouvindo!?!”

Ele não respondeu.

Ela saiu.

Viu sua bunda rebolar de raiva enquanto colocava seu fone de volta.

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“Antes que eu me esqueça, Roberto...”

O amigo deu uma longa puxada no cigarro de fresco com sabor de menta.

“Não quer mesmo falar sobre ela? Não mesmo?”

“Não. Não quero.”

Ficaram em silêncio. Tomaram mais um gole do chope.

“Olha aquela ali, Roberto.”

Roberto olhou. Gostou.

Levantou a sobrancelha. Tomou mais um gole.

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Socava o saco de pancadas com raiva.

Já estava ali há uns bons 20 minutos.

Ouviu o celular tocar.

Mensagem.

Parou para olhar.

Um dos amigos que viriam na sua festa no dia seguinte dizia que não poderia ir.

--- foi mal. ---

Suspirou.

Mais um dizia que não poderia vir.

Mais alguns e não haveria o suficiente para uma festa.

--

O café do escritório era uma merda.

Mas até que ele gostava.

Rita.

Do almoxarifado.

Lia um livro de crônicas sentada próxima dele.

“Já li esse autor”, ele disse.

“É, ele é muito bom.”

“Bem engraçado.”

Os dois deram umas risadinhas.

“Quer um café?”, ele perguntou levantando o copo descartável na direção dela.

“Esse aí não”, ela disse com um sorriso.

“Tá com tempo?”

“A-hã”

Ela fechou o livro, guardou-o na bolsa e saíram do prédio.

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Levanta.

Dá uns socos.

Escova os dentes.

Toma banho.

Se veste.

Toma café.

Pega as chaves e a maleta.

Sai de casa.

Passa na padaria para um pão de queijo.

Escritório.

Almoço com Rita.

Escritório.

Cinema com Rita.

Ir ao apartamento de Rita.

Mais uma quarta-feira.

--

Mais uma quarta-feira.


Conto de Lucas Beça

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