“Eu estava na limpeza de zumbis nos
anos 2000, sabe?”, eu disse para o alienígena gordinho e meio gosmento que
havia me perguntado como que eu acabei em uma na cela de uma nave, prestes a
ser condenado a viver em um planeta árido desabitado, com ele e mais outro
alienígena magricelo que estava sempre sorrindo.
“Hã? Que limpeza? Que zumbis? Que tal
um contexto, por favor?”
Eu revirei os olhos e sentei-me no
banco no centro da cela.
“Ok. Vamos pelo começo. Eu nasci no
século XIX.”
“Dezenove? Mas a sua raça não vive no
máximo uns 80 anos?”
“Vai deixar eu contar ou não?”
“Tudo bem, continue...”
“Então, eu nasci no século XIX e aos
quarenta anos eu fui mordido por um vampiro? Sabe o que é isso?”
“Sim, sei.”
“Pois então, eu vivi assim por mais de
um século. Mas no final dos anos 80 teve um surto de zumbis. Eu acabei ficando
encurralado um dia e fiquei sem sangue. Eu tava fraco pra caramba, a ponto de
alguns zumbis começarem a me comer. Tá vendo essa perna mecânica? Pois é,
zumbis. Eu só sei que eu desmaiei e acordei amarrado em uma maca, com um
médico/cientista maluco cheio de sangue nas roupas. O desgraçado me curou do
vampirismo e... bom, mesmo que tenha sido bom, deixei de fazer várias coisas
incríveis que eu podia sendo vampiro. Depois de alguns anos, aos poucos nós
conseguimos dizimar os zumbis. Depois disso teve a invasão alienígena na Terra
e com a tecnologia conseguimos sair e explorar o espaço. E aqui estou eu, preso
por fazer trambiques intergalácticos com dois alienígenas babacas.”
Eles ficaram em silêncio. O magricelo
risonho ficou um pouco sério, mas não tanto assim. O gordinho gosmento então
olhou para mim.
“Poxa. Bom, eu—”
“Eu não quero saber da sua história de
vida.”
“Mas você contou a sua.”
“Mas eu não pedi pra você contar a sua.”
“Babaca!”, ele ficou cabisbaixo por um
tempo. Depois virou-se para o risonho. “E você, quer ouvir?”
“Ah-Rá!
Rá Rá Rá!”, riu/gruiu o magricelo, que se levantou e foi ver o espaço pela
janela.
“Mas eu quero compartilhar a minha exp—”
“Cala a boca, carinha. Simplesmente
cala a boca.”
Primeira parte do
conto de Lucas Beça
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