Um riso de escárnio


Ele comprou um sorvete para ver se isso tirava um pouco da dor de cabeça que estava sentindo por conta da quantidade de álcool que acabara de ingerir. Pagou, pegou o sorvete e, ainda desnorteado, pegou o celular e ligou para ela, que estava atrasada de novo. Talvez ele dissesse para cancelarem e marcar para outro dia, até porque... Ele não estava cem por cento.

Tropeçou em seus próprios pés. O celular foi para o chão. Ele viu a tela trincada. O sorvete esparramou pelo chão.

Vendo-o de quatro, ali, cansado, alcoolizado, um caco, ela aproximou-se dele.

Ao invés de ajudá-lo, cruzou os braços e ficou parada, com um riso de escárnio no rosto. Todas as pessoas simplesmente passavam por eles. Ele pegou o celular. Tirou a gota de sorvete que caíra sobre a tela agora trincada. Ficou de joelhos. Percebeu que as calças esfolaram, quase a ponto de rasgar. Suspirou e deixou o corpo se curvar.

Virou-se para o lado e viu-a ali parada, observando-o com os braços cruzados e o riso de escárnio no rosto. Assustou-se um pouco. Ela semicerrou os olhos (ainda com o sorriso) e disse:

“O que você está fazendo aí... De quatro?”

Ele a olhou o mais furioso que conseguiu.

“Valeu por ajudar, hein?”, disse quase balbuciando, tentando se levantar.

Ela o ajudou, e ao se encontrarem de pé, olharam-se. Ele desviou o olhar para frente. Ela riu um pouco mais. Começaram a andar.


Derradeiro conto do ano de Lucas Beça

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