Crônica de Gustavo do Carmo
Há alguns meses, uma grande discussão
tomou conta da opinião pública e das redes sociais. Uma exposição no Museu de
Arte Moderna de São Paulo – MAM-SP – colocou um homem nu à disposição de
crianças que quisessem tocá-lo. O peladão brincou até de roda com as meninas.
Um claro incentivo à pedofilia.
O Fantástico, da Rede Globo, fez
uma matéria para comentar a “polêmica”, ou melhor, a canalhice que atentava
contra a moral e os bons costumes do Brasil. Só que acabou botando gasolina na
fogueira ao só entrevistar defensores da arte indecente, todos ligados a
partidos de esquerda, em vez de ouvir os dois lados, como manda a regra do
jornalismo, ensinada nas faculdades (aliás, dominadas por comunistas). Todos condenando
os que são contra a essa baixaria disfarçada de arte, chamando de intolerantes
e preconceituosos.
Vou dar rapidamente a minha
opinião: o problema da exposição não é a nudez. E sim o uso de crianças nessa
exposição indecente. Aliás, outra manifestação artística de baixo nível, em
Porto Alegre, também foi lembrada: o tal do Queermuseu,
que mostrava pinturas e desenhos incentivando crianças a se tornarem
homossexuais e a fazerem sexo com animais (zoofilia), além da pedofilia, claro.
A matéria tendenciosa provocou uma
reação justíssima contra a Globo. E muitos propuseram boicotes à emissora e
seus anunciantes. É aí que eu quero chegar. Ultimamente, tenho feito, sim, alguns boicotes. Ou melhor,
muitos contra a Globo. Por causa desta reportagem e por outros motivos também.
O Fantástico eu já não vejo mesmo
antes da exibição desta reportagem. Motivos:
A) matérias sobre corrupção e
violência urbana. No primeiro caso, mostram os casos, mas ninguém é punido, para
variar. Só tem sensacionalismo. No segundo, maioria das reportagens sobre
violência urbana foca no Rio de Janeiro. Como se aqui fosse o inferno e São
Paulo, o paraíso. E também me sinto mal de tanta revolta. Seja em qualquer
lugar do país.
B) Reportagens fúteis e
tendenciosas como essa da exposição pornô.
C) Prioridade ao telespectador
paulista. Ou melhor, aos anunciantes paulistas. Há muitos anos, a Rede Globo
virou a porta-voz do governo de São Paulo e difamadora oficial do estado do Rio
de Janeiro. Matérias positivas são sempre produzidas lá, o Tadeu Schimidt conversa
mais com os cavalinhos dos clubes paulistas, os gols da rodada começam sempre
pelos times bandeirantes, jornalistas paulistas ganham mais destaque e
promoções, etc. Não estaria tão incomodado se a Globo não fosse a única
emissora do país nascida no Rio de Janeiro. Parece aquele carioca que está
doido para se mudar para São Paulo, porém, ainda não tem dinheiro para comprar
um apartamento lá, mas, enquanto isso, fica falando mal de onde nasceu e foi
criado e se junta ao inimigo (ou ao amigo falso).
D) Ex-colega de faculdade
trabalhando como editora. Já sofro por nunca ter trabalhado como jornalista.
Fico com vergonha de ser um desocupado enquanto meus colegas se dão bem. Por
isso, me recuso a prestigiar gente que me boicota e finge que não me conhece
nas redes sociais.
Também não vi
A Força do Querer (Transgredir) – que fez apologia ao tráfico de drogas, não
estou vendo esta atual das nove e programas da emissora produzidos em São
Paulo, principalmente os telejornais. Ah, também não estou assistindo ao RJTV
pelo excesso de violência. Até a edição local de Cabo Frio está insuportável de
assistir. No seu canal a cabo, a Globonews, parei de assistir ao Estúdio i, que
adorava. Transformou-se numa reunião de socialistas televisionada.
Só que, finalmente
chegando ao que eu queria dizer, é impossível boicotar tudo. Assumo que ainda
assisto à novela das sete, aos jogos da Seleção Brasileira de Futebol, aos jogos exibidos
nos canais Sportv, às novelas do Canal Viva, à edição da meia-noite do jornal
da Globo News. E ainda sou assinante do Jornal O Globo. Tudo das Organizações Globo. Também assumo que
a Globo, tendências políticas à parte, é a emissora de melhor qualidade
(imagem, transmissão e planejamento) do país.
Os comunistas
- e até meus ex-colegas de faculdade - estão impregnados em tudo. (Quase) todos
os atores, jornalistas, produtores, escritores... seguem ideologias de
esquerda. Se eu boicotar tudo não consigo viver. Enlouqueço. Me emburreço. Perco
amizades. Fico isolado. Quem quer boicotar tudo e todos acaba se tornando
radical e solitário. Isso também vale (principalmente) para o pessoal da
esquerda (que quer mudar o pensamento dos outros).
O que vou usar
no lugar do Omo? Como vou substituir os produtos da Unilever? Vou impedir meus
pais de consumirem? Vou usar sabão em pó vagabundo? Vou deixar de lavar roupa?
Vou correndo cancelar a minha conta no Santander (que patrocinou o Queermuseu)
ou no Itaú (que patrocinou a exposição do pedófilo e as meninas) só porque
patrocinou uma exposição indecente? Dá o maior trabalho para abrir outra conta. E sai caro também.
Em vez de
comprar perfumes do Boticário vou comprar os da Jequiti, que parecem perfumes de
fundo de quintal (mesmo não sendo) e nem são vendidos em lojas? A Natura também
é esquerdista. Vou deixar de usar desodorante? Eu já prefiro Pepsi a Coca-Cola.
Mas e se a Pepsi ou mesmo a Ambev se revelar esquerdista? E se algum ex-colega
do curso de publicidade criou uma campanha para a Pepsi?
Televisão vou
assistir a quê? Às novelas bíblicas (eu não gosto e até a minha mãe, que é
religiosa, também não) e os telejornais – que mais criticam a Globo do que dão
notícia - da Record? Um parêntese: na semana seguinte à matéria do Fantástico,
a Record exibiu uma reportagem em resposta. Mas também só ouviu um lado, embora o correto. Mas a intenção foi criticar a Globo mesmo.
Continuando os
dilemas: Vou assistir às breguices do SBT e da Rede TV!? O paulistismo
exagerado da Band (assisto à Bandnews, mas mudo de canal quando passa o que não
me agrada)? As pregações evangélicas da CNT? O esquerdismo da TV Brasil? Vou
ler que jornal agora, se aqui no Rio só temos o Globo, o Dia e, em breve de
volta, o Jornal do Brasil, todos esquerdistas?
O que me
impede de fazer um boicote perfeito e coerente é a falta de opções de qualidade igual ou superior. Saindo
do campo político, tenho que dar o exemplo das operadoras de telecomunicações.
Todas são ineficientes. A Oi presta um serviço horrível de internet banda larga
no meu bairro de subúrbio. Mas não tenho outra opção de operadora. A única que
chega à minha rua é... a Oi.
No mesmo
bairro só há quatro opções de padarias. Uma está decadente e com muitos
produtos em falta. Outra é a que presta o melhor serviço, só que razoável. A
terceira é um mercado que tem um pão que murcha rápido e a quarta fica num
supermercado que fica lotado. Quando este supermercado fechou para reformas
durante alguns meses, o bairro só ficou com o mercado que vende pão murcho para
fazer compras.
Faço os meus
boicotes pessoais e os que eu aceito aderir. Mas só até onde for possível. Caso
contrário, eu preciso ser incoerente e hipócrita.
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