TARDE DEMAIS 34 - GRITO DE SOCORRO



Conto de Gustavo do Carmo

As pálpebras já começavam sentir o peso do sono quando ouvi um grito de mulher. Em seguida, uma sequência de “Socorro”.  Apaguei a luz para ver, anonimamente, pela janela, o que ocorria na porta do meu prédio.

Do segundo andar deu para ver dois homens negros, fortes e de cabeça raspada agarrando uma mulher loura. Corri para a porta para tentar ajudá-la, mas, ao passar pelo espelho, vi que eu estava todo desarrumado e fedia. Corri para tomar banho.


Enquanto me ensaboava, ainda ouvia os gritos da mulher. Sequei-me rápido, corri para o meu quarto para me vestir. A camisa que eu queria usar estava na parte com a porta do armário quebrada. E ainda tive colocar a porta no lugar.

Vesti rápido a bermuda e a camisa. Calcei o primeiro par de tênis que achei, procurei o meu celular e abri a porta do apartamento.  A essa altura os gritos já tinham cessado. Tentei descer pelo elevador, mas ele estava ocupado. Corri para a escada, mas desci devagar para não fazer barulho.

Quando cheguei à portaria já havia um burburinho e muitos curiosos na calçada. Perguntei para o porteiro se o brutamontes ainda estava agredindo a indefesa moça.

— Xi, seu Reginaldo, ele já a estuprou e foi embora. Fui eu que chamei a polícia e estou esperando o meu filho ficar no meu lugar para ir depor como testemunha.
— Eu ouvi-a gritando lá do meu apartamento. Ia descer pra ajudar, mas precisei tomar banho antes. Acho que cheguei tarde demais.
— Foi até bom o senhor não descer mesmo. Ele poderia até ter te matado.


Fui até a calçada. Os policiais já tinham levantando e levado-a embora. Os curiosos também se dissiparam. Ao voltar para o meu apartamento, reparei que eu tinha vestido a camisa e a bermuda do lado errado e um tênis de cada cor. 

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