As pálpebras já começavam sentir
o peso do sono quando ouvi um grito de mulher. Em seguida, uma sequência de
“Socorro”. Apaguei a luz para ver,
anonimamente, pela janela, o que ocorria na porta do meu prédio.
Do segundo andar deu para
ver dois homens negros, fortes e de cabeça raspada agarrando uma mulher loura.
Corri para a porta para tentar ajudá-la, mas, ao passar pelo espelho, vi que eu
estava todo desarrumado e fedia. Corri para tomar banho.
Enquanto me ensaboava, ainda
ouvia os gritos da mulher. Sequei-me rápido, corri para o meu quarto para me
vestir. A camisa que eu queria usar estava na parte com a porta do armário
quebrada. E ainda tive colocar a porta no lugar.
Vesti rápido a bermuda e a
camisa. Calcei o primeiro par de tênis que achei, procurei o meu celular e abri
a porta do apartamento. A essa altura os
gritos já tinham cessado. Tentei descer pelo elevador, mas ele estava ocupado.
Corri para a escada, mas desci devagar para não fazer barulho.
Quando cheguei à portaria já
havia um burburinho e muitos curiosos na calçada. Perguntei para o porteiro se
o brutamontes ainda estava agredindo a indefesa moça.
— Xi, seu Reginaldo, ele já
a estuprou e foi embora. Fui eu que chamei a polícia e estou esperando o meu
filho ficar no meu lugar para ir depor como testemunha.
— Eu ouvi-a gritando lá do
meu apartamento. Ia descer pra ajudar, mas precisei tomar banho antes. Acho que
cheguei tarde demais.
— Foi até bom o senhor não
descer mesmo. Ele poderia até ter te matado.
Fui até a calçada. Os
policiais já tinham levantando e levado-a embora. Os curiosos também se
dissiparam. Ao voltar para o meu apartamento, reparei que eu tinha vestido a
camisa e a bermuda do lado errado e um tênis de cada cor.
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