Estava
ligando para uma nova pizzaria. O restaurante para o qual ele sempre pedia
tinha sofrido um incêndio há semanas e estava fechado. Já tinha coletado
filipetas e anotado telefones de outras pizzarias antes disso e agora teve a
oportunidade de mudar.
Ligou
para uma literalmente caseira, que funcionava em uma casa na rua da igreja do
seu próprio bairro de subúrbio. Esperava que ela fosse mais barata.
Após
três toques foi atendido. Como era um restaurante caseiro, não havia o costume de
anunciar o nome do estabelecimento na hora de atender o telefone. O homem, com
voz grave e educada, disse apenas:
—
Alô?
—
Alô, boa noite? É da pizzaria? O freguês não tinha anotado o nome da casa, que
também estava com um som bem alto, com ruídos de pratos batendo, que mal dava
para ouvir o que o atendente falava.
—
É sim! Respondeu solícito.
—
Vocês estão entregando pizza hoje?
—
Ih, rapaz! Hoje eu vou ficar devendo essa. É que está tendo música ao vivo aqui
no restaurante, tem muito movimento aqui e, por isso, o entregador fica
ajudando no atendimento.
—
Ah, tudo bem. Eu ligo outro dia.
—
Desculpa aí. Hoje não tem entrega. Mas obrigado por ter ligado.
—
Tudo bem. Sem problemas. Obrigado.
O
freguês desligou o telefone e ligou para outra pizzaria, também desconhecida,
mas aparentemente mais profissional. Já o atendente, que era um matador de
aluguel, abaixou o som que ligara para abafar o tiro, pediu para o comparsa
parar de bater os pratos, passou por cima de um corpo de bruços e fugiu do
restaurante totalmente vazio. Tinha acabado de matar o proprietário, que devia cinquenta
mil reais ao seu cliente, um agiota a quem a vítima tinha pedido o empréstimo e
não pagou porque a pizzaria não estava dando lucro.
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