SAUDADE ENTRE 55 E 60 LINHAS - STANISLAW PONTE PRETA

Por Gustavo do Carmo

Stanislaw Ponte Preta nasceu Sérgio Porto há 85 anos em Copacabana, em pleno verão (11 de janeiro de 1923). Incorporou a irreverência natural do carioca nas crônicas que começou a escrever, no final dos anos 40, para os jornais Última Hora, Tribuna da Imprensa e Diário Carioca, além das revistas Sombra e Manchete.

Nessa época, em parceria com o ilustrador Tomás Santa Rosa, Porto criou um personagem satírico chamado Stanislaw Ponte Preta (tipo o Agamenon de hoje), inspirado em Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade, seu autor preferido. Stanislaw transformou-se no pseudônimo deste jornalista que também foi radialista, roteirista e apresentador de programa de televisão (na TV Rio, onde também escreveu o roteiro dos Espetáculos Tonelux). Porto foi também compositor musical. Compôs a música "Samba do Crioulo Doido" para o Quarteto em Cy.

Além do Stanislaw, Sérgio Porto criou os personagens Tia Zulmira, Rosamundo, Primo Altamirando e o Garoto Linha Dura. Em 1954, parodiando o colega da revista Manchete, Jacinto de Thormes, que divulgou a lista das "Mulheres Mais Bem Vestidas do Ano", Stanislaw, que comentava sobre teatro de revista, criou as "Mulheres Mais Bem Despidas do Ano". Sob protestos moralistas, mudou o nome da escolha para as "Certinhas do Lalau", pois seu pai, Américo Porto, dizia para ele quando via uma mulher bonita na rua: "Que mulher mais certa aquela!" (hoje a gente diz "Olha que mulher mais gostosa!"). Ganharam este título 142 vedetes. As mais famosas atualmente são Betty Faria, Carmen Verônica, Íris Bruzzi, Mara Rúbia, Miriam Pérsia, Norma Bengell, Sônia Mamede e Virgínia Lane.

No início da ditadura militar, em 1964, aconteciam as primeiras prisões por causa do regime. Mas quando Sérgio Porto ficou sabendo que um professor foi denunciado aos militares e preso como comunista só porque deu zero para o filho da delatora, Stanislaw criou o FEBEAPÁ (Festival de Besteiras que Assolam o País) e passou a contar casos de prisões e processos mais idiotas do país. Escreveu também contos para crianças.

Como escritor normal, Sérgio Porto fez sucesso com o livro de contos As Cariocas, com histórias que se tornaram clássicas como A Desinibida do Grajaú, a Grã-fina de Copacabana, A Currada de Madureira e a Desquitada da Tijuca. Outro livro foi A Casa Demolida, uma coletânea de crônicas pessoais inspiradas na demolição da casa onde nasceu e foi criado. Detalhe que Sérgio comprou um apartamento justamente no edifício que foi erguido sobre a casa de sua infância em Copacabana. Esses dois livros foram republicados recentemente.

Cardíaco, Sérgio Porto morreu de infarto aos 45 anos no dia 29 de setembro de 1968. Deixou viúva, Dirce Pimentel de Araújo, três filhas - Gisela, Ângela e Solange - e um país que ainda precisa mais do que nunca de suas histórias irreverentes.

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