COMEMORICE

Por Gustavo do Carmo




Eu acho que estou com ‘comemorice’: mania de comemorar demais. No final de novembro do ano passado, comemorei os dois anos do meu blog Tudo Cultural com uma maratona de textos meus, de colaboradores e convidados. No início do ano lembrei a primeira década da única viagem que eu fiz ao exterior escrevendo uma crônica, a primeira deste ano, além de eu falar dos táxis ingleses nos meus fotologs sobre carros. Agora é a vez de comemorar os dois anos do meu primeiro e, até agora, único livro publicado, o Notícias que Marcam.

O aniversário do lançamento oficial é no dia 11 de maio. Oficial porque ele fez a sua pré-estréia na Bienal do Livro de São Paulo de 2006. Para aqueles que acham que São Paulo é o centro do país, foi um ótimo lugar para se debutar no mercado. Pena que não vendeu nada. Por isso, fiquei apreensivo com a noite de autógrafos aqui no Rio. Morri de medo de não ir ninguém. Ninguém que eu convidei, claro. Pois o evento seria no Shopping Rio Sul, dentro de uma livraria num dia comum, ou seja, movimentado.

Convidei todo mundo que podia. Os colegas da pós-graduação que eu fazia na época foram os primeiros. Algumas senhoras até sugeriram que eu contratasse um buffet para o coquetel. Eu não ia fazer, mas elas insistiram tanto que eu acabei desembolsando 400 reais. Depois convidei os parentes. Principalmente um primo de segundo grau que me incentivou bastante. Em seguida, a minha lista de contatos na internet. Até jornalistas eu convidei. E até minha irmã, que não me apoiava muito, convidou os amigos dela. Ah! Pra não falar mais um “até”, convidei os fregueses da loja de auto-peças do meu pai em Santa Cruz da Serra. Os meus dois ex-colegas de faculdade, com os quais eu estava brigado, só foram convidados porque eles inspiraram uma personagem (sim, os dois inspiraram a mesma personagem) da história do livro.

O dia era ingrato. Noite de uma quinta-feira. Todo mundo cansado. E eu ainda fazendo festa para mim. Felizmente, 34 pessoas compraram o livro. Todas elas meus convidados. Fiquei feliz pela presença deles. Um desses dois que viraram personagem foi um dos primeiros a chegar. O outro não foi. O meu primo que me incentivou fugiu do hospital (onde estava internado com dengue) para me prestigiar. Depois apareceram as minhas primas mais próximas (uma delas com o filho de nove anos que começou a ler o meu livro), as minhas primas mais chiques, o meu tio (que eu considero como avô), o meu primo com a mulher, o filho adolescente e uma outra prima, as minhas tias paternas, uma delas minha madrinha com seu esposo, que é meu tio de estimação e também meu padrinho de batismo e incentivador, as amigas da minha mãe, a amiga do meu pai com o marido e a filha pequena, os amigos da minha irmã e até (olha a palavra aí de novo) o meu dentista. Da turma da pós-graduação (que era composta por umas trinta pessoas), só apareceram duas. Uma delas foi a primeira a chegar à livraria. A outra apareceu logo depois.

A mulher que insistiu para eu contratar o bufê sequer deu as caras. Nem os editores paulistas. Muito menos a diretora de eventos da rede de livrarias que produziu o evento. Os jornalistas só ficaram no sonho mesmo. Já os freqüentadores da loja ignoraram a minha presença. Ignoraram que estava acontecendo uma noite de autógrafos. Mesmo com o alto-falante anunciando a cada quinze minutos. Eu até tentei convencer um casal a comprar, mas ruim de lábia que eu sou, não compraram.

Não saí decepcionado. Fiquei feliz com a festinha particular que a editora e a livraria organizaram para mim. Me emocionei com a presença dos parentes e amigos que eu não via há muito tempo. Saber que eu estava feliz naquele 11 de maio de 2006 eu sabia. Só não sabia que dois anos depois eu iria sofrer de ‘comemorice’, uma mania de comemorar sem muita necessidade, cujos principais sintomas são a saudade e o desejo de escrever.

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