Se você entrar no Café Literário, verá uma enorme parede de dois
metros e meio de altura com uma estante embutida recheada de livros, dos mais
diversos conteúdos. Ali só se vende café comum em caneca (não têm copos de
plástico para viagem) por dois reais e chá mate por um (gelado ou quente, à sua
escolha). Você pode pegar qualquer livro e passar o tempo que quiser em um
dos puffs ou mesas, desde que compre um dos itens acima. Se
quiser levar um dos livros, é só pagar um real, não importa qual seja o livro.
Se quiser devolver, o próximo café ou chá é de graça.
Américo entrou no Café e pediu um chá gelado. Foi até a estante e
pegou um livro qualquer. De crônicas. Assim poderia ler alguns dos textos sem
se comprometer a ler o livro todo.
Sentou-se em uma das mesas e poucos minutos depois um dos
funcionários trouxe seu chá. Na caneca havia um desenho de um buldogue andando
de skate. Ele sorriu ao ver isso.
Fora Jéssica, sua namorada, que pediu para que ele a encontrasse
ali naquela hora.
Ele leu uma, duas... Quando estava na metade da terceira crônica
aleatória, Jéssica entrou no Café. Tinha uma expressão séria. Ele começou a
ficar preocupado.
- Olha. Eu... Acho melhor eu ir logo... – Ela pegou a bolsa e
saiu, sem olhar para trás.
- Claro, claro... – disse ele sem emoção, segundos enquanto ela
desaparecia de sua vista, dobrando a esquina.
Ficou encarando o livro de crônicas sobre a mesa. A capa era rosa
e o título e o nome do autor em branco, atrás a silhueta de uma cidade cheia de
arranha-céus, como aquela em que ele vivia.
Levantou-se e ao fazer isso derrubou a caneca, derramando o resto
do líquido sobre o livro.
- Ah, eu-- Desculpa-- Mas que merda.
Uma das funcionárias aproximou-se dele com um pano de prato. Colocou-o
sobre o líquido, absorvendo-o.
- Eu, eu-- Pode deixar-- Eu pago o livro.
- Ei, tudo bem – ela colocou a mão sobre seu ombro.
Ele respirou fundo. Sentou-se novamente.
- Posso perguntar o que aconteceu? Quer que eu chame alguém?
Parece tão pálido.
Ela pôs as costas da mão sobre a sua testa.
- Não parece quente.
- Não, eu tô bem. Eu só... – deu um sorriso amarelo. – Só a minha
namorada que me deu um pé na bunda.
- Ah... Nossa, eu sinto muito.
Ela parou. Depois pegou o pano de prato e o livro ainda encharcado
de chá.
- Posso fazer alguma coisa pra você?
- Não, não...
Ele tirou uma nota de cinco.
- Aqui, fica com o troco. Eu... Eu preciso tomar um pouco de ar.
Saiu do Café.
- Então, foi assim.
Ana ficou alguns segundos em silêncio. Os dois estavam na sala do
apartamento de Américo, sentados no sofá. Na televisão passava um jornal
qualquer.
- Nossa... Seca assim, desse jeito?
- Desse jeito.
- Olha, eu já levei pé na bunda até por telefone e não foi tão
ruim assim.
- Pois é...
Ele se levantou.
- Quer alguma coisa?
- Não, tô bem.
Entrou na cozinha. Ana ficou sentada no sofá. Ele encheu um copo
com água. Tomou um gole. Parou na porta da cozinha. Encostou-se no batente.
- Mas o pior foi ela ter escolhido justo aquele Café.
- É mesmo, lá é bem legal.
- Agora toda vez que eu entrar lá eu vou lembrar daquela filha da
puta.
Conto
de Lucas Beça
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