FIM DE FESTA


Uma festa de quinze anos em uma casa de festas no subúrbio está no final. O DJ toca a última música. How Deep is your Love, grande sucesso dos Bee Gees, rola na caixa de som em um volume moderado ao ritmo do globo de vidro que gira no teto para fazer reflexo no único casal de meia-idade que dança na pista vazia, pois a última metade dos convidados começa a deixar o local se despedindo, praticamente em grupo, da aniversariante - morena clara, de olhos verdes, bonita, mas que se acha gorda por causa das suas pernas grossas e do busto grande - e da sua mãe, uma senhora de cabelos curtos tingidos de vermelho, recém-entrada na menopausa dos seus cinquenta e quatro anos.
O pai da debutante, com seus cabelos grisalhos e óculos bifocais de aro fino e que se recusa a revelar a sua idade, conversa com o diretor da empresa onde trabalha, um senhor barrigudo de setenta anos, de cabelos brancos. O paletó aberto do anfitrião mostra a etiqueta da loja onde o terno foi comprado em três vezes sem juros. O fotógrafo, para encontrar o melhor ângulo para as suas últimas poses, quase se senta no colo do anfitrião da festa.

A balada dos Bee Gees termina. O DJ desliga a aparelhagem e guarda os discos. Se prepara para ir embora. Aparecem os cinco faxineiros que varrem o salão praticamente vazio. Os garçons, na cozinha, conversam aos gritos e afrouxam as gravatas. O cozinheiro guarda as panelas, limpa o fogão e lava as bandejas.  

O pai da aniversariante que estava conversando com o diretor da empresa, que já foi embora, vai ao escritório da casa de festas para acertar a conta. A aniversariante feliz e a mãe emocionada, acompanhada do filho caçula de dez anos, tímido e de óculos fundo-de-garrafa, aguardam, cansados, o pai e marido para irem embora para casa. 

O segurança ronda o salão para checar se está tudo em ordem. Acorda o idoso que está dormindo na cadeira próxima à varanda. Socorre o bêbado caído na escadaria do salão. Vai ao banheiro, ouve gemidos de prazer e bate a porta. Sem resposta, arromba e flagra dois jovens transando. São expulsos aos empurrões.

O DJ já foi embora. Ganhou uma carona dos anfitriões da festa encerrada. Os cozinheiros se despedem dos colegas faxineiros e seguranças e vão embora, se dirigindo ao ponto de ônibus mais próximo. Os faxineiros também se preparam para voltar para casa.

As últimas luzes se apagam. Sem esperança de receber pelo serviço de filmagem que eu fiz na festa, vou embora.  A dona da casa de festas realizava o último evento no local, que encerrará as suas atividades. Ela foi embora para não pagar os funcionários, pois estava com vergonha de contar que está endividada e que o dinheiro que recebeu do anfitrião da última festa não vai dar para pagar nem a conta de luz.


Na saída, passo pela piscina e vejo um corpo boiando na piscina. Mas não tenho o menor interesse em registrar a cena e nem avisar à polícia. Já guardei a câmera e estou cansado, louco para voltar pra casa onde ainda terei que decupar e editar as imagens da última festa da Casa da Felicidade. 



Conto de Gustavo do Carmo

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