Filme de terror


O diretor diz para sua assistente, seriamente:


“Eu preciso ver essa versão primeiro sozinho, pode ser?”

Ela diz que tudo bem e sai da sala de exibição. Há umas 10 cadeiras. Ele apaga a luz e senta-se na primeira fileira.

Estreita os olhos e cruza os braços. Na tela aparecem zumbis. Uma moça corre um zumbi a ataca.

“Esse filme vai ser um sucesso. Um sucesso...”, diz com um sorriso no rosto.


De pé olhando para a cidade pela janela de seu escritório, ele é interrompido pela assistente, que entra na sala.

“E então, como foi?”

Ele vira-se para ela, sorridente.

“Ótimo, acho que está na hora de colocar pra avaliação do público.”

Faz uma pausa.

“Acho que vai ser um sucesso. Você vai ver, vai ser um sucesso. Marque minhas palavras.

Ela hesita um pouco.

“Tem certeza? Você não acha que é meio precipitado...?”

“Não, é o momento certo. Marque a sessão. Vai ser a confirmação do filme.

Ele vira-se novamente para a janela. Sorri mais uma vez, agora com os dentes à mostra. Ela sai apreensiva.


Com a sala lotada, a sessão começa. O diretor e a assistente estão sentados na última fileira.

Com o rolar do filme, começam os comentários:

Que bosta!
É sério que fizeram isso?
Dá pra ver como isso é falso.
Pra que isso?

Aos 20 minutos de filme algumas pessoas saem da sala.

Aos 43 mais pessoas saem da sala.

Aos 54 há apenas dez pessoas espalhadas pela sala e o diretor passa as mãos pelos cabelos, enquanto a assistente tenta acalmá-lo.


Os dois estão no escritório, sentados um em cada canto do sofá. Ele bebe.

“Ah, não foi tão ruim assim”, diz a assistente.

Ele a encara. Volta a beber.

“Eu queria que esse filme fizesse sucesso... De verdade...


Décadas depois, num programa de entrevistas qualquer.

“Diga-me então, como foi ver esse filme reconhecido... Depois de tanto tempo? Era considerado um dos piores filmes de terror até uns tempos atrás, não era? E hoje é considerado um clássico do horror nacional...”

“Realmente, foi muito difícil fazer esse filme. E eu gostei tanto de fazer... Mas infelizmente não teve o reconhecimento na época.”

“Mas e na época, você achou que se tornaria um clássico?”

“Não, que é isso? É claro... A gente faz o melhor que pode, mas no fim é o público e a crítica que decide.”


Conto de Lucas Beça

Postar um comentário

0 Comentários