Atendeu, com voz bem tremida, o
interfone que tocava insistentemente.
— Quem é?
— Encomenda para a senhor
Péricles Soares.
— Você poderia subir, por favor?
É que eu sou idosa e não posso mais descer escada rápido.
— Claro, minha senhora. Tudo
bem.
A porta do apartamento já estava
aberta, à espera do jovem entregador, que subiu ofegante com uma caixa de
papelão numa mão e um papel na outra. Entregou primeiro à senhorinha o papel,
não sem antes perguntar se ela era a mãe do destinatário.
Após responder que sim, a idosa
de 80 anos assinou a guia de entrega e recebeu uma caixa um pouco pesada, com a
nota fiscal colada com durex. Ela colocou a caixa sobre a mesa de jantar e foi
buscar uma gorjeta para o entregador franzino. Ensinou-lhe abrir o portão de
saída e se despediu dele. Fechou a porta.
Em seguida foi ao quarto do filho
e com muito esforço colocou o notebook que ele havia comprado. A encomenda
demorou bastante. Durante a espera, ele teve um infarto fulminante por causa de um plágio que
levou sem poder provar.
O notebook ficou lá na cama,
dentro da caixa de papelão lacrada. Mais um item para o santuário de Péricles,
que só foi desfeito quando Dona Celeste precisou se mudar para a casa da filha
porque o prédio onde morou por 50 anos e criou os dois filhos seria demolido
para a construção de um condomínio do Minha Casa, Minha Vida.
0 Comentários