'OLHARES, VEREMOS'

Conto de Weverton Galease


 Sentado em um trem, numa viagem turística, Carminito ao lado da janela, em um desses vagões onde dois passageiros viajam em poltronas 'enfrentadas', estão separados apenas por uma pequena mesa, avista um homem grande, rosado, chegando e ocupando aquele espaço à sua frente.

 Carminito tranquilo, pensava que não apareceria mais ninguém para ocupar as outras poltronas, seria uma viagem sonolenta. No entanto, a poucos segundos da máquina iniciar os trabalhos para a viagem, vai chegando um casal, que não tinham mais que trinta anos. Ele é alto e muito magro, tem o cabelo caracolado, e usa um par de óculos com armação grossa, que não se encaixam muito bem ao seu fino rosto. Ela, muito branca, chega ali abraçada a um ramalhete de rosas vermelhas, usando um casaco marfim, seu cabelo marrom escuro combinava em um contraste com sua pele.
  
 De mãos dadas, a mulher mantinha firmemente um sorriso perpétuo, e de vez em quando, jogava palavras ao ar. Carminito não chegou a se importar com a mulher falando alto, com seu par, e passou a prestar atenção no que ocorria, a mulher falava sem olhar para os lados, sentada à frente de seu namorado, parecia direcionar seus olhos para cima dos olhos de seu acompanhante, foi aí que Carminito aprofundou mais sua percepção aos belos olhos azuis da mulher, notou uma enorme ilha preta naquele olhar. 

  Carminito então cutuca o homem à sua frente, dizendo-lhe :
- Você percebeu isso? Nota-te, o ramalhete, com espinhos cortados, pétalas da mais macia textura, que sorte a dessa linda mulher, ter um companheiro que à conduz sem agressividade.
  O homem então olhou firme para Carminito, e replicou :
- Uma bela viagem, mas veja como se sente leve esta moça, veja, estamos aqui jogando conversa fora, carregados de uma semana estressante no trabalho, reparando-a, enquanto ela escuta o leve barulho da chuva, sente a maciez das pétalas de rosas, e firme na segurança em conversar com seu namorado, marcada pelo belo sorriso, direcionado à paisagem desta viagem, mesmo que não possa ver tudo isso. A vida é bonita em todos os sentidos!

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