Joaquim Paço d’Arcos : O Romancista Esquecido


Continua sendo considerado, injustamente, um dos autores mais ignorados da literatura portuguesa do Século XX, embora conte no currículo com um invejável rol de obras traduzidas em diversas línguas. 

  Joaquim Paços d'Arcos, de verdadeiro nome Joaquim Belford Correia da Silva, filho do governador de Macau (1918-1923), Henrique Correia da Silva Paços d'Arcos, abordou temáticas orientais em dois dos seus livros, "Amores e Viagens de Pedro Manuel" de 1935, e "Navio dos Mortos e outras Novelas" de 1952, este último centrado na questão do tráfico dos cules, que era uma forma de escravatura inventada nos finais do século XIX, assim a descreve o escritor, lembrando da importância que os chineses atribuem a mania confucionista, ao lugar onde nasceram.


 «Eu vi sempre marcado pela legenda o tráfego dos mortos. Desde Cuba onde substituiriam os negros nas plantações de açúcar, às ilhas do Pacífico e do Índico, onde são pescadores e artífices, pela costa ocidental das Américas até à Califórnia, onde constituem colônia rica e numerosa, por infindáveis paragens se espraiam os chineses, obreiros e fugidos à penúria do País natal. A toda a parte chegam, garotos ainda, homens feitos, anciãos. Mas depois têm de voltar, se não em vida, pelo menos na morte».

  A trama "Navio dos Mortos e Outras Novelas", que teve várias edições em Portugal, anda em torno do assassinato da filha de um abastado negociante de Macau trazida de volta a terra natal, num caixão, por um navio desta função destinado.
  Nascido em Lisboa, em 1908, Joaquim Paço d'Arcos rumaria a África quatro anos depois. Em 1919 chegou a Macau, após de morada travessia marítima, ficando por lá até 1922, tendo sido aluno do Cardeal D.José da Costa Nunes, qual foi a primeira pessoa em que percebeu o 'apetite' e a propensão de Joaquim para a escrita, os anos no território de Macau, marcaram Joaquim profundamente, ao qual, tempos depois, viria a transportar em páginas de seus livros.
  De regresso a Metrópole, trabalhou em um banco inglês, ficando por apenas dois anos, retornou com seu pai a Moçambique, ao qual foi secretário de seu pai. Joaquim ainda viria a passar pelo Brasil, ao qual cursou jornalismo, exerceu funções na Companhia Nacional de Navegação, e por fim em 1936 foi nomeado chefe dos serviços de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, cargo em que ocupou até 1960.
  Paço d’ Arcos não foi apenas um autor bastante traduzido no seu tempo, era também profusamente lido nos anos 40 e 50, e conta no currículo com várias menções literárias, de destaque, em 1938, pelo seu romance "Ana Paula: perfil duma lisboeta", o Prêmio Ricardo Malheiros, troféu da Academia das Ciências de Lisboa, visando estimular a cultura e a criação literárias em Portugal, que autores como Ferreira de Castro, Aquilino Ribeiro e Alves Redol receberem de bom grado, mas que Joaquim acabaria por recusar. O mesmo não se passou quanto ao reconhecimento pelas suas obras "Amores e Viagens de Pedro Manuel", Prêmio Eça de Queirós; "Neve sobre o Mar", 1942, prêmios Fialho de Almeida e Gil Vicente; e "O Braço da Justiça, peça em nove quadros", 1964, Prêmio Casa da Imprensa.
  A obra mais conhecida de Joaquim foi "Crônica da Vida Lisboeta", que é um conjunto de seis romances.
  Joaquim Paço d'Arcos também viria a compor-se por sátiras, ao qual fazia parte do seu dia a dia, mas suas obras viriam a ficar esquecidas por muito tempo, mais especificamente, por quatro décadas, falecido em 1979, não pode ter visto, mas suas obras foram reeditadas em 2014, se trata de três livros de memórias que ele publicou. Quem sabe este seria o renascimento de um reconhecimento que Joaquim Paço d'Arcos nunca pôde desfrutar.
  

ESCRITO POR : WEVERTON GALEASE
Foto : fnac.pt

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