DESPEDIDAS


Conto de Gustavo do Carmo

Quando completou dez anos de vida uma tradição iniciou-se para Miraela. A cada três anos ela visitava a rodoviária da cidade onde nasceu, no interior do estado do Rio de Janeiro. E o passeio não era nada agradável. Terminava sempre em lágrimas provocadas por tristes despedidas.

O pai foi tentar a sorte em São Paulo. Nunca mais deu notícias. Depois, a irmã mais velha foi trabalhar em Belo Horizonte. Aos dezesseis anos abraçou, emocionada, a amiga de infância, que foi morar em Porto Alegre. O primeiro amor partiu com destino a capital, onde embarcaria para estudar nos Estados Unidos. Estava com vinte e dois anos quando viu a mãe ir embora para São Paulo encontrar-se com o novo namorado e, juntos, voarem para Paris.

A rodoviária deixou de ser o amargo passeio onde Miraela se despedia de pessoas tão queridas em sua vida para se tornar o seu árduo sustento. Trabalhou na bilheteria de uma empresa de ônibus. Durante quarenta anos testemunhou, por inúmeras vezes, as mesmas despedidas que viveu.

Aposentada, já tinha filhos, genros, noras e netos quando embarcou no primeiro ônibus que saiu da rodoviária. Não se despediu de ninguém.

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