RESENHA DA QUINZENA - CIRANDA DE PEDRA

FOTO: REDE GLOBO



Roda e não empolga
Por Gustavo do Carmo

Primeiro foram as chamadas. Trilha imponente, efeitos visuais modernos com toques clássicos e a exaltação ao ambiente da história: a São Paulo do final dos anos 50 (enaltecer SP é com a Globo mesmo). O elenco de primeira já estava escolhido. Foram apresentados ao público no teaser que antecedeu o lançamento. Neste, aliás, brincavam de ciranda, título da novela. Uma brincadeira de criança tão ingênua e divertida. O telespectador não sabia que a idéia seria aproveitada na abertura, só que com figurantes. Prometia anunciar uma grande novela.

E a abertura ficou linda. Simples e objetiva. As moças que dançam a ciranda são belas. E a música Redescobrir de Gonzaguinha e Elis Regina combinou perfeitamente. Prometia abrir os capítulos de uma grande novela. Pelo menos na abertura acabou com o mito de que tudo do passado é melhor. A primeira adaptação de Ciranda de Pedra, romance de Lygia Fagundes Telles foi ao ar em 1981, escrita por Teixeira Filho. Era ambientada na São Paulo dos anos 40. E naquela época não existia Projac e nem computação gráfica para reviver a fotografia da cidade-ambiente na primeira metade do século XX. A abertura parecia uma cena da novela, só que com figurantes. A trilha era Céu Cor-de-rosa do Quarteto em Cy. A versão 2008 de Ciranda de Pedra, assinada agora por Alcides Nogueira, prometia ser totalmente superior a versão 81.

O elenco da nova versão, como na primeira, também é de primeira linha. Eva Wilma foi substituída por Ana Paula Arósio. Adriano Reys por Daniel Dantas. Armando Bógus virou Marcelo Anthony. Norma Blum foi trocada por Ana Beatriz Nogueira. As então jovens atrizes Lucélia Santos, Priscila Camargo e Sílvia Salgado deram lugar a três novatas: Tammy di Calafiori, Ariela Massoti e Ana Sophia Folch. Mônica Torres e José Augusto Branco são os únicos remanescentes da primeira produção. Suas antigas personagens agora são de Paola Oliveira e Osmar Prado. Com todas essas qualidades, Ciranda de Pedra prometia ser uma grande novela no horário das seis, que poderia render recordes de audiência.

Mas não está. E a Globo sentiu isso intensificando as chamadas e se defendendo com a teoria de que o brasileiro acessa a internet neste horário. Pode até ser. Mas muita gente acessa a internet com a televisão ligada na novela. O problema não é o horário. É a própria história que está engessada. Roda, roda, roda e não sai do lugar desde que estreou há três semanas (no dia 5 de maio). Ficou presa no Dr. Natércio prendendo a esposa Laura no quarto ou a humilhando. A filha Virgínia preocupada com a mãe, enfrentando o pai (provavelmente adotivo) e a governanta mau caráter Frau Herta enquanto a irmã mais velha só fica rezando sem ajudar a mãe e a do meio paquerando o namorado da irmã politicamente correta. Do outro lado, o galã Dr. Daniel lutando para salvar a amada das garras do marido vilão. Quando sai disso, acaba voltando a estaca zero e começa tudo de novo. No núcleo secundário, o empresário dono da fábrica preocupado com o gerador com defeito; o filho bon vivant namorando a filha da mocinha e brigando com o pai e a irmã jogando tênis. Ao mesmo tempo, o personagem do Bruno Gagliasso procurando emprego para depois trabalhar honestamente e ainda paquerando a Cléo Pires (está previsto que ele dispute o amor de Virgínia com o bon vivant Conrado). Já o núcleo cômico reúne as figuras das novelas anteriores: a pensão (presente em Desejo Proibido, Eterna Magia e O Profeta), o barbeiro (das duas últimas novelas) a briga de marido, mulher e sogra (de Alma Gêmea) e a jovem de bem pretensiosa, esperta e divertida que acaba aprontando situações engraçadas (O Profeta, Alma Gêmea e Chocolate com Pimenta). Aliás, o personagem de Caio Blat é muito parecido com um malandro que ele interpretou em Esplendor. Além de tudo isso, os atores principais não estão conseguindo transmitir a emoção de suas personagens. Parecem que estão interpretando para o diretor durante a gravação e não para o telespectador.

A culpa da pouca audiência de Ciranda de Pedra também pode estar no fato de ser mais uma novela de época no horário das seis. Esse tipo de novela realmente é mais interessante, culto e educativo do que as tramas atuais. O problema é que esta já é a sexta novela consecutiva do horário ambientada no passado. A situação piora com a reciclagem dos mesmos tipos de personagens secundários. Agora que Ciranda de Pedra está no ar, resta torcer para os atores se soltarem mais (sem gritar. chorar demais e transmitir emoções piegas) e a trama ter mais ação, pois até a brincadeira de roda se abre e avança.

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