Crônica de Gustavo do Carmo
Em 2009, escrevi o conto Sem Resposta, em que um homem chamado Arthur sofria, desde pequeno, com a falta de respostas das pessoas com quem interagia. A história é autobiográfica e, como o Arthur, também sofro com a falta de respostas. Começando aqui em casa, quando o meu pai fica em silêncio quando eu lhe dou uma sugestão ou peço para ele parar de fazer alguma coisa errada. Com a minha irmã é a mesma coisa. Mando mensagens pelo WhatsApp, principalmente para ela tomar uma atitude em relação aos problemas mentais do meu pai e ela não responde. Só isento a minha mãe de culpa porque ela tem Alzheimer e, mesmo respondendo outra coisa do que eu perguntei, ela não me deixa sem resposta.
Na faculdade e na pós-graduação, quando eu mandava e-mails para os colegas que faziam trabalho de grupo comigo, dificilmente me respondiam. Cheguei a ser grosseiro com uma moça uma vez cobrando resposta e levei um fora. Depois que eu me formei, cheguei a procurar alguns e não tinha retorno. Primeiro por telefone, quando o meu colega mais próximo me tratava com frieza. Depois por e-mail e messenger. Já não falava mais com eles na época do WhatsApp. Já me falaram até que eu não sei pedir as coisas. E não sei mesmo. Tenho autismo, mas isso é assunto para outra crônica.
Quando eu procurava emprego, já não tinha resposta do resultado da seleção. Claro que a resposta era não, mas, diante da insistência da minha mãe, que era lúcida na época, ligava e diziam que eu não passei. De uma grande lista de produtoras de cinema para as quais mandei currículo, só recebi uma resposta. Que não tinha vaga, evidente. Anos antes, uma colega da faculdade de publicidade brigou comigo quando eu lhe disse que estava enviando e-mails com currículos sem o currículo anexado para ver se eles me retornavam pedindo o arquivo. Com razão, mas me humilhando, ela me disse que eu não era tão importante a ponto de quererem ver o meu currículo.
Nas redes sociais, raramente minhas publicações no Twitter têm repercussão. Só um ou outro me retuita. Mas quando peço ajuda ninguém responde. Já fiz campanha para doação de sangue para repor o banco do hospital onde a minha avó estava internada. Zero engajamento. Ao procurar no Instagram uma ex-colega de pós-graduação que ficou famosa na Globo, também não tive resposta, o que me desencadeou uma crise de ansiedade e uma raiva dela até hoje.
No You Tube, tive um trabalhão para editar alguns vídeos, tanto de futebol quanto para sugerir elenco para remakes fictícios de novelas. Pouquíssimas visitas. Propus a ideia, mesmo escrita, para editores de sites especializados em televisão e quase ninguém respondeu. O único deu resposta foi tão frio que eu me senti no Polo Norte. Falando sério, fiquei sem saber se o cara apoiou meu projeto ou lavou as mãos.
Sou um influencer de coisa nenhuma. Aposto que esta será mais uma crônica sem resposta.
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