Eu estava com o meu melhor terno. Rei. Eu era o rei do
lugar. Não tinha o dinheiro. A fama era limitada àquelas pessoas.
Ela havia saído levando a maior parte das suas coisas. Mas agora
eu estava ali.
Peguei minha pasta preta com os papéis separados para aquela
noite. Por trás das cortinas eu ouvia o burburinho. Os suspiros, as risadas.
O anfitrião me anunciou no palco.
Ela não me queria mais, foi o que ela disse. Já estava com o
terno. Preto. Simples. Elegante. Na discussão ela pegou a taça de vinho pela
metade da noite anterior e jogou em mim. Continuei com o mesmo terno. Mesmo com
a mancha vermelha.
Aplausos.
Ouvi meu nome saído das bocas de mulheres. Tudo bobagem. Nada
concreto.
Da boca pra fora.
Queria apenas estar no meu quarto, treze anos, ouvindo The Police deitado na cama. Os fones
baratos e ruins, mas que eram os melhores do mundo. As pilhas de revistas no
criado-mudo. As roupas jogadas em qualquer canto. Os cadernos de desenho
abertos e os lápis e as canetas no estojo.
Meus olhos fechados.
Subi no palco e agradeci.
Aos poucos foram ficando quietos.
Sentei na poltrona que estava no centro do palco. Estava sobre
um tapete e ao lado, um copo, uma garrafa d’água e o microfone em cima de um
banquinho.
Dei dois toques nele para testar antes de dizer:
- Fiquei sabendo que vocês queriam ouvir alguns poemas...
E eles riram.
Abri minha pasta preta, puxei o primeiro poema e comecei a
ler.
Conto de Lucas Beça
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