E eu existo nessas ruas. Olho para você, mas você não me vê.
Pouca gente me vê. Talvez me olhem de alguma forma quando compro algo, mas mesmo
assim, é muito pouco, muito rápido, muito sentimental, sei lá, parece que
ninguém se importa. O tempo passa e não sei o que fazer.
As coisas se amontoam e não consigo encontrar tempo o
suficiente para fazê-las. E tudo bem. Ele vai passar. Não tem jeito. Algumas
teclas do teclado do computador não funcionam direito e eu tenho que pressionar
bem fundo para que a letra apareça na tela. Mas ele já tem quase dez anos,
então não posso reclamar. Está lutando bravamente para permanecer ligado hoje
em dia.
As ruas permanecem as mesmas, se deteriorando com o tempo, a
poluição, o movimento. Nós também, de todas as formas. Aprendemos e
desaprendemos o tempo todo. As incongruências da vida. O que é a vida? Não sei.
Não me importo em procurar entender isso. Vou indo dormir acordado, acordando
no dia seguinte, seguindo em frente, para um futuro que espero que seja melhor.
Mas hoje eu não posso reclamar, pois tenho quase tudo que uma pessoa poderia
pedir a Deus. O resto é resto. É acabamento. É o mais caro. O que dá mais
trabalho. A fundação já está feita. Se é do jeito que você queria, aí é outra
história, não é mesmo?
E não adianta ficar bravo quando dizem que você parece com
os seus pais, pois acho que só se pode lutar só até certo ponto contra a
genética. É involuntário.
Estamos aqui para cometer nossos erros e desaprender com
eles na medida em que as coisas vão acontecendo.
Conto de Lucas Beça
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