Às 7 e 38


Bom dia, disse ele para seu pai.

Era 7 e 38 da manhã e acabara de sair do banho. Estava frio. Era junho. Talvez o junho mais frio que ele presenciara até então.

Estava colocando as meias. Depois colocaria os tênis, e então, com o cabelo meio úmido e já penteado, tomaria o café.

Que frio, ele disse a seu pai.

Este estava passando um pouco de manteiga no pão.

Hã?

O frio. Fui deixar pra tomar banho hoje de manhã...

Tava gelada a água?

Tava...

Na verdade não estava tão gelada assim, pensou. Colocara a roupa rapidamente, e o calor logo se espalhou pelo seu corpo.

Tá bom também, disse o pai.

Ele preparou seu café com leite. Colocou-o no microondas. Começou a preparar seu pão. Perguntou quanto fora o jogo da noite anterior. Foi dormir cedo, quando ainda estava no 1º tempo.

O pai hesitou, pensando.

Foi dormir cedo também?

Não. Foi 1 a 0... Ah, não. Foi 2 a 1.

Pro Vasco?

A Chapecoense tinha feito um gol logo no início do jogo.

Não, pra Chapecoense.

Os dois falavam o nome completo do time, e não a Chape, como parecia que todos os outros falavam. Era assim em relação ao time deles. Quase nunca diziam Lusa. Era sempre a Portuguesa. Ou a “Purtuguesa”.

Ele terminou de fazer seu pão com mortadela, queijo e margarina e o colocou no forninho elétrico.

Comeram em silêncio.

Às 7 e 57 ele se levantou da mesa, foi até o quarto, pegou sua carteira e 100 reais em notas de 20 e 10 para troco, passou pelo porta-chave e pegou a chave da loja.

Vou descer, disse.

O pai continuou na mesa, terminando seu café.

A loja ficava no mesmo terreno, na parte da frente. Abriu as três portas, colocou as placas nos ganchos do lado de fora e os tambores com vassouras, rodos e varas de pesca.

Estava limpando as gaiolas com as galinhas quando uma moto encostou. Parou o que estava fazendo e foi atender o homem, que já havia comprado ali antes.

Queria um saco de milho. O rapaz pegou-o e levou até a moto. O homem amarrou com a cordinha na parte traseira.

Entrou na loja, contornou o balcão, para receber. Olhou a hora no celular. 8 e 13.

8 e 13 e já vendera!

Era uma quinta-feira de feriado.

Seria um dia bom.

 

 

Conto de Lucas Beça

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