De tubo, 29 polegadas: Um


Ele tinha marcado de se encontrar com a mulher na porta do prédio do seu apartamento. Não sabia como ela era. Tinha perguntado a um amigo se ele não conhecia alguém que estava precisando de uma televisão. Ele estava vendendo a sua.
O amigo então lembrou-se de uma amiga que estava abrindo uma loja e precisava de uma.
Ele tomou o seu café. Olhou pela janela. Havia pouco movimento na rua. Era umas seis e meia.
Não costumava acordar cedo. Mas esse era o único horário que ela poderia ir ver a tal televisão.
Estava com sono. Havia dormido pouco. Acordou no meio da noite com uma ambulância passando a toda na rua e não conseguiu mais pegar no sono.
Tomou mais uma caneca de café. Talvez fizesse efeito, pensou. Pegou um pedaço de pão de forma quase duro, seco e passou margarina. Queria um café dos deuses. Com bis, cereal de chocolate, presunto e queijo e tudo mais, mas não podia se dar ao  luxo. Era por isso que estava vendendo a televisão. Precisava de dinheiro. Pagar umas dívidas, sair da forca.
E além do mais, não assistia TV mesmo.
Levantou-se da mesa, que ficava na sala, ao lado da janela e foi até o aparelho. Ligou-o. Para ver se ainda estava funcionando. Estava. Apareceu uma rodovia. A voz de uma repórter dizia algo sobre os números de mortes no período, que tinham aumentado.
Desligou. Pronto. Não ficaria com cara de bobo caso a TV não funcionasse.
Voltou à janela. Debruçou-se. Viu uma mulher na sarjeta. Um homem passou por ela. Ela pediu dinheiro. Ele fingiu que não era com ele. Parecia bêbada ou drogada. No mínimo bêbada.
Atravessando a rua, a uma outra mulher chamou sua atenção. Tinha um belo par de peitos, e uma bela bunda também. Estava um pouco acima do peso, mas não era ruim.
Ela desapareceu debaixo do toldo do portão do prédio.
O interfone tocou.
Era ela.


Primeiro capítulo do conto de Lucas Beça


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