De tubo, 29 polegadas: Três



Ela apertou o interfone.
- Oi, é... Sou amiga do Rafael, ele falou que você tá vendendo uma TV...
- Sim, sim. Pode subir.
Ele ficou um pouquinho nervoso. Aquela mulher estaria em seu apartamento em alguns segundos. E ele ali, com uma camisa velha, e moletom.
Deu alguns socos no saco de pancada. Foda-se, pensou.
Ele abriu a porta. Ela o cumprimentou. Viu que tinha um piercing no nariz.
- Você é o Augusto, né?
- Isso, isso. Disse, apertando a mão quente dela. Pode entrar.
- Brigada.
Ela deu um risinho.
- Que legal, você luta.
Ele não entendeu se foi uma pergunta.
- Naah, só brinco de vez em quando.
Ela encostou a mão na lona. Deu um soquinho.
Ele viu a bunda de perto. Era linda. Ela usava uma calça preta justa.
- Eu também lutava. Mas sério.
- Ah...
Era só o que conseguia pensar.
Ele estava hipnotizado.
Ela se virou. Ele desviou o olhar. Ela sorriu. Em um dos caninos estava outro piercing.
- Ah, é... Você quer alguma coisa, café, água...?
- Um cafezinho, pode ser.
- Ok.
Augusto deu alguns passos e já estava na cozinha. Pegou uma caneca do armário.
- Você é a...
- Oi?
- Seu nome?
- Ah, é Helen. Desculpa.
- Sem problema. Helen é um nome bonito.
- Sério? Essa é a sua jogada?
Ele ficou sem graça. Esqueceu onde ficava a cafeteira por alguns segundos.
- Não, eu só...
- Relaxa.
Ela sorriu e andou até a TV.
Ele colocou café na caneca.
- Açúcar?
- A-hã. Uma colher só.
Ele ouviu a TV ligando.
Levou a caneca até ela.
- Aqui.
- Brigada.
Ela tomou um gole.
- Então essa é a tal?
- Essa mesmo.
Ficaram olhando.
Era uma TV de tubo, de 29 polegadas.
- Quanto você tá pedindo?
- Quatrocentos.
- Mesmo? Tudo isso?
Ele olhou para ela.
- Quanto você acha que vale?
Ele sentou-se no sofá. Ela cruzou os braços, analisando a TV.
Helen fez biquinho antes de falar.
- Ah, sei lá, uns duzentos.
Ela tomou mais um gole de café. Olhou para ele, que disse:
- Só duzentos?
- Ah, é uma velharia. Deve ter uns vinte anos.
- É, mais ou menos.
Ela se sentou no sofá. Olhou para Augusto.
- E então, qual é a sua contraproposta?


Terceiro capítulo do conto de Lucas Beça


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