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Meu
chefe (que eu deveria chamá-lo de ex-chefe ou pelo seu nome agora) me ligou pra
dizer que estava entediado.
Que não
tinha nada pra fazer lá a não ser, palavras dele: “Encher o cu de areia e se
molhar naquele esgoto a céu aberto.”
Eu dei
risada e disse que isso era normal.
Talvez
fosse melhor então mudar de praia.
Mas
você conhece a peça. Ele já tinha pagado metade do aluguel e não iria abrir
mão.
Me
perguntou também como estava indo os negócios e eu respondi que estava tudo
bem.
- 66
Eu
menti, naquele dia, sabe...
Eu
estava um pouco preocupado.
Estava
vendendo DVD à rodo. São originais, baratos...
O
problema é que elas pararam de comprar dos camelôs e
Bom, sei
lá, talvez seja só paranóia minha.
Nunca
fui tão “bem sucedido” antes de verdade.
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Tivemos
outra briga.
Essa
foi feia.
Karen
pegou o quadro com você na foto e jogou em mim. Eu desviei.
O
quadro bateu na parede, quebrou todo o vidro e por pouco não estragou a foto.
Foi
embora pisando duro.
No
outro dia ela veio se desculpar, dizendo que tinha passado dos limites, que foi
culpa dela.
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Oi.
Eu
estou cansado de falar sobre minha vida.
Queria
tanto ouvir você falar sobre a sua. Sobre o seu dia. O que você fez, o que
deixou de fazer, quem você se encontrou na rua, o que você comeu no almoço...
Queria
ouvir a sua voz mais uma vez, que não seja de um alto-falante de um computador.
Queria
sentir o seu calor em um abraço apertado.
Só
isso.
É pedir
muito?
Parte 17 do conto de Lucas Beça
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