Cartas para ninguém (65, 66, 67 e 68)



- 65
Meu chefe (que eu deveria chamá-lo de ex-chefe ou pelo seu nome agora) me ligou pra dizer que estava entediado.
Que não tinha nada pra fazer lá a não ser, palavras dele: “Encher o cu de areia e se molhar naquele esgoto a céu aberto.”
Eu dei risada e disse que isso era normal.
Talvez fosse melhor então mudar de praia.
Mas você conhece a peça. Ele já tinha pagado metade do aluguel e não iria abrir mão.
Me perguntou também como estava indo os negócios e eu respondi que estava tudo bem.


- 66
Eu menti, naquele dia, sabe...
Eu estava um pouco preocupado.
Estava vendendo DVD à rodo. São originais, baratos...
O problema é que elas pararam de comprar dos camelôs e
Bom, sei lá, talvez seja só paranóia minha.
Nunca fui tão “bem sucedido” antes de verdade.


- 67
Tivemos outra briga.
Essa foi feia.
Karen pegou o quadro com você na foto e jogou em mim. Eu desviei.
O quadro bateu na parede, quebrou todo o vidro e por pouco não estragou a foto.
Foi embora pisando duro.
No outro dia ela veio se desculpar, dizendo que tinha passado dos limites, que foi culpa dela.


- 68
Oi.
Eu estou cansado de falar sobre minha vida.
Queria tanto ouvir você falar sobre a sua. Sobre o seu dia. O que você fez, o que deixou de fazer, quem você se encontrou na rua, o que você comeu no almoço...
Queria ouvir a sua voz mais uma vez, que não seja de um alto-falante de um computador.
Queria sentir o seu calor em um abraço apertado.
Só isso.
É pedir muito?


Parte 17 do conto de Lucas Beça

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