HIPOCRISIA EM VERSOS



Crônica de Gustavo do Carmo

Dizem que eu não corro atrás. Que eu não procuro ninguém para fazer contato.
“Ain, nada cai do céu pra você. Tem que correr atrás!” Jogam na minha cara.


Aí eu procuro.
Sou ignorado.
Insisto.
Sou ignorado.
Insisto de novo.
Sou ignorado.

Perco a paciência e já começo a xingar. A criticar.
Aí eu passo a ser malvisto. Ficam me chamando de louco, de infantil e retardado pelas minhas costas. Mas continuam me ignorando.

Volto a insistir educadamente.
Sou ignorado.
Volto a insistir educadamente mais uma vez.
Aí a pessoa perde a paciência e joga na minha cara que é atarefada, que não é igual a mim (como se eu não tivesse nada para fazer). Que já a ofendi diversas vezes. Ameaça prestar queixa na polícia se eu voltar a insistir.
Depois o amargo sou eu.  

Decido a não correr mais atrás de ninguém. Como sempre fazia.
Jogam na minha cara que o rancor faz mal para o coração. Que é preciso perdoar.
Voltam a dizer que eu não corro atrás. Que eu não procuro as pessoas para fazer contato.
“Ain, nada cai do céu só para você. Tem que correr atrás!” Jogam de novo na minha cara.

Aí eu mando para a puta que pariu!
Continuo sendo ignorado. Agora para sempre.



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