NÃO VOU, NÃO VOU, NÃO VOU!

Conto de Gustavo do Carmo

— Eu não vou, pai!
— Mas tem que ir!
— Eu não quero!
— Já disse: tem que ir!
— Não quero, pai! Não quero! Não quero! Não quero! Diz, sapateando.
— É pro seu bem, meu filho!
— Você sempre diz isso! Mas eu não quero saber. Eu não vou!
— Eu estou perdendo a paciência, Geraldo! Você vai sim! Nem que eu tenha que te arrastar!
— Eu não vooooooooou! Nããããão! Começa a chorar aos berros.
— Engole esse choro que está todo mundo olhando!
— Não quero saber. Não vou! Não vou! Não vou! Eu quero ficar em casa no meu computador.
— Eu vou te dar uma surra no meio da rua, na frente de todo mundo, se você não me obedecer. Diz o pai, tirando o cinto das presilhas da calça.
— Pode dar! Eu não tenho mais medo de você!


O pai dá uns três golpes de cinto no filho mimado, que chora até soluçar.

— Engole esse choro! Você já está bem grandinho! Eu sou seu pai. Sou eu que te sustento! Sou eu que me mato de trabalhar para dar tudo do bom e do melhor para você e seus irmãos! Você me respeita!
— Eu sou um bom filho. Sempre fui. Mas nesse lugar eu não quero ir! E se você me sustenta, por que eu tenho que trabalhar? Isso é exploração infantil, sabia???
Geraldo leva outros três fortes golpes de cinto.

— Geraldo Luís de Mattos Silva! Você já tem trinta anos e o rosto todo barbado. Se você não comparecer ao trabalho de contínuo no banco que eu te arrumei, não só te darei outra surra como vou te deixar um mês de castigo, sem televisão e sem internet! Mas antes volta pra casa, se arruma de novo porque você já está todo sujo e com o rosto manchado de lágrimas. 

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1 Comentários

Weverton Galease disse…
haha chegou me dar raiva ao ler esse conto, Gustavo.
muito bom!