Na
fila do banco, cinco mulheres de idades diferentes contam como
foram batizadas com um mesmo nome: Vitória.
Maria
Vitória, uma rica empresária, aparentando uns sessenta anos, conta que nasceu
de um parto difícil em que ela e a mãe quase morreram. Por isso ganhou o nome
que muitas mulheres recebem quando superam um momento dramático no nascimento.
A
segunda Vitória, jovem estudante de classe média, dezoito anos, pele clara e
olhos verdes, conta que nasceu prematura, após um trágico acidente que ganhou até
as manchetes do jornal. Ficou três meses na incubadora, quase morreu de
meningite e foi registrada como uma promessa de seu pai.
A
terceira Vitória é uma jornalista de vinte e cinco anos, que também virou
notícia de jornal quando nasceu. Fora achada no lixo por um gari. Quase foi
levada ao triturador do caminhão da Comlurb. Adotada por um casal de
comerciantes, donos de uma padaria na Tijuca, cresceu, estudou e se formou.
A
quarta, uma vendedora de sapatos de quarenta anos, teve uma vida simples e
tranqüila. Nunca correu risco de morrer em seu nascimento. Mas de sequer ser
gerada. A mãe fez diversos tratamentos para poder voltar a engravidar depois de
três abortos. Já não acreditava mais em ter uma gestação quando, nove meses
depois, ela nasceu. Quase adotou uma criança. Ao procurar o juizado de menores
sentiu um enjôo forte. Em vez de ir conversar com a assistente social, foi para
o médico, que lhe deu o feliz diagnóstico. Estava grávida. A felicidade
aumentou quando o bebê vingou e pôde estar, aos trinta e dois anos, com muita
saúde, no banco pagando a última prestação da casa própria. Recebeu o nome de
Vitória dos Milagres.
Somente
a quinta teve uma história diferente. Empregada doméstica, pouco mais de
cinqüenta anos, seu parto foi tranqüilo em uma fazenda de cacau em Itabuna, na
Bahia. Filha do peão com a lavadeira, sofreu apenas com o nível social em que
sempre viveu. Atualmente, mora em uma favela com o marido e os dois filhos.
Com
o seu sotaque nordestino, contava, se divertindo, que no dia do seu nascimento,
a mãe a estava parindo, com a ajuda da mulher do fazendeiro e outras lavadeiras.
O pai nem ligava para o nascimento da filha. Ouvia a decisão do campeonato
baiano pelo rádio. Só desviou a atenção do jogo por causa do choro do neném.
Quando foi perguntado pela esposa que nome a filha deveria se chamar, ouviu o
apito final e saiu comemorando aos berros: VITÓRIA!!!!
—
O Vitória foi campeão e eu fui batizada com o nome do time de coração do meu
pai.
Uma
sexta mulher, senhora de setenta e cinco anos, ouvia atenta a conversa entre as
cinco Vitórias, principalmente a última. Sarcástica, entrou na conversa e
completou:
—
Pelo menos o seu pai não te registrou como América
Campeã dos Campos Sales.
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