
Conto de Gustavo do Carmo
Entrou aos quarenta minutos do segundo tempo. Fez o sinal da cruz
e pisou com o pé direito no campo de jogo tão logo o juiz auxiliar levantou a
placa eletrônica com o seu número e o do seu companheiro de time que ia sair.
Foi abraçado pelo colega cansado como cumprimento.
Mal tinha pegado o ritmo da partida quando roubou a bola do
adversário e correu para ataque. Driblou
meio time adversário até encobrir o goleiro adiantado fazendo o seu primeiro
gol após sofrer uma fratura na perna que o deixou parado por seis meses. Quase
se afogou no mar de companheiros que correram para abraçá-lo.
Também era o seu primeiro jogo após a contusão. Por isso,
precisava voltar aos poucos, pois ainda estava em recuperação. Esteve ameaçado
de não disputar o torneio, mas o técnico apostou nele e não o cortou.
Aos quarenta e três matou uma bola no peito pouco antes da grande
área e lançou uma bomba indefensável para o arqueiro. Queria comemorar
abraçando o técnico mas foi impedido pelo auxiliar. O jogo ainda teria mais
cinco minutos de acréscimo e aos quarenta e nove dá outro chutaço, mas a bola
bate caprichosamente na trave.
Aos cinquenta, finalmente, Rodríguez repete o lance do primeiro
gol e inicia outra arrancada a partir do meio de campo, ainda mais bonita.
Desta vez dribla com pedaladas e lençóis, incluindo o goleiro e toca para o gol
vazio. O zagueiro do outro time chegou tarde demais na bola.
Já pensava na música evangélica que ia pedir para o programa
dominical da TV, mas desistiu. Não tinha clima. Recusou a tão sonhada trilha
sonora para quem faz três gols no mesmo jogo porque a reação que ele comandou
foi tarde demais. Seu país perdeu por 6x3 e foi eliminado do campeonato, em
casa. Estava perdendo por 6x0 e não deu tempo de virar o jogo.
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