Já ouvi várias vezes - na
faculdade de jornalismo que eu fiz, nas dicas de sucesso da mídia e
principalmente na pós-graduação em telejornalismo que eu não terminei – que o
jornalista não pode ter preconceitos.
Pela vivência que eu tenho, esse
conselho só vale para o horário de trabalho, pois o jornalista – salvo algumas
exceções - é o profissional mais preconceituoso que existe. Durante o
expediente ele é obrigado a subir morro de favela, enfrentar tiroteio,
entrevistar humildes trabalhadores ignorantes desdentados (nada contra estes), assaltantes,
moradores de rua, etc. Mas acabou o trabalho, ele volta para o seu mundinho esnobe
e hipócrita: só faz amizade com gente bem-sucedida, bom nível cultural, pessoas
ricas e influentes e, principalmente, comunicativas.
Usa as eternas e convincentes
desculpas do tipo “estou muito ocupado”, “não tenho nem tempo de comer” e “não
gosto de redes sociais” para não ligar, não responder e-mails, não se reunir para
fazer trabalho em grupo, não seguir no Twitter, não adicionar no Facebook. Diz isso para os mais tímidos, anônimos e até bobos, mas os amigos e influentes
ele faz questão de procurar. Jornalista mulher só quer se casar com homens
ricos que conhece nas baladas da vida.
Sou vítima desse tipo de gente e
de suas “desculpas” há mais de dez anos. Deveria ter me acostumado, mas não
consigo. A cada ano fico mais amargo e desconfiado. Por causa desses hipócritas
crio ainda mais preconceitos contra os jornalistas preconceituosos.
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