O comercial de televisão
anunciava um ovo de chocolate com trufas, castanha de caju, coco e marshmallow. Era de uma marca de
chocolates finos. E caros. Fui à sua loja ver o preço. Custava 120 reais.
Decidi comprá-lo para
presentear alguém na data. Queria conquistar uma garota de quem eu gostava na
faculdade. Paguei no cartão de débito. Para a minha condição financeira médio-pobre,
foi como fazer uma extravagância. O ovo vinha numa caixa média que eu mandei
embrulhar para presente.
Esperei ansiosamente pela
quarta-feira da Semana Santa para lhe dar o ovo. Ela faltou. Levei o chocolate ainda
sem dona para casa. Guardei-o um pouco na geladeira e depois na prateleira do
meu quarto.
Esperei ainda mais ansioso
pela segunda-feira pós-Páscoa. O que seria um caro e agradável presente antes
da Páscoa virou um caro e atrasado presente depois. Chegou, pela segunda vez, o
grande dia. Ela foi.
Coração disparado. Ia ao
seu encontro no pátio da faculdade, mas ela começou a conversar com amigas. Prefiro
entregar o presente para ela sozinha. O que só consegui na sexta-feira. Na
terça ela faltou, na quarta fui eu e na quinta ela não desgrudou das amigas de
novo.
Procuro-a como um louco
que persegue mulheres. Fiquei até com medo de realmente ser confundido com um.
Mas Fulana é uma moça gentil e educada. Quando a abordei na porta do banheiro
feminino, que fica num corredor deserto e escuro, e lhe ofereci o ovo de 120
reais ela respondeu, até sorrindo com a reclamação que fez:
— Obrigada. Mas já estou
cheia de ovo de Páscoa lá em casa. Estou precisando emagrecer e ainda me enchem
de ovo. Meu namorado me deu um de 20 quilos, imagina!
— Imagino. Mas você é
magra. Se ficar mais magra do que já é vai ficar com anorexia.
— Que nada. Olha o meu
culote. Estou me sentindo gorda. Mas obrigada pelo carinho.
— Ah, mas pode ficar com
ele. Dá de presente pra alguém.
— Não precisa. Lá em casa
já está todo mundo entupido de chocolate. Meu namorado é franqueado dessa loja
mesmo. A gente tem vários lá em casa. Um beijo.
Não quis insistir mais
para não aborrecê-la. Ela voltou para o grupo de amigas no pátio. Eu voltei
para casa. Esse ovo de chocolate recheado de quatro sabores me custou 120
reais. E agora descubro que eu comprei do namorado dela. Não quis mais comê-lo.
Muito menos levar o doce sem dono para casa.
Na rua, dei o ovo para um
mendigo solitário. Que me agradeceu emocionado. Ia embora quando fui chamado e
convidado para comer com ele, que não teve Páscoa. Eu tive a minha, com meus
pais e minha irmã. Fiquei aliviado pelo meu ovo de chocolate de 120 reais ter
servido para deixar alguém feliz.
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