Foi chamado para trabalhar na
afiliada da maior emissora de televisão do Brasil. O diretor de jornalismo
ligou pra ele e marcou uma entrevista para o dia seguinte. Confiante, Orlando
teve que se deslocar de Teresópolis até Nova Friburgo, em uma desconfortável viagem
de uma hora e meia de ônibus.
Chegou com meia hora de
antecedência. Foi recebido por Guilherme, repórter da emissora, com quem
estudara na faculdade. Este levou o antigo colega até uma mesa com computador e
apenas disse:
— Trabalha aí!
E Orlando trabalhou. Trabalhou
por duas horas até o almoço. Como produtor, “vendeu” duas pautas para o jornal
da tarde. Uma virou reportagem, mas ele não ganhou crédito. A outra foi
derrubada por uma notícia de última hora. Depois do intervalo, trabalhou mais
quatro horas. No segundo turno, não “vendeu” nenhuma pauta.
Ao final do expediente foi
recebido pelo diretor de jornalismo no escritório dele. Luiz elogiou o trabalho
do candidato e quase garantiu a contratação nas próximas semanas. Mas impôs uma
condição, quase ridícula: que ele tirasse o registro do sindicato estadual de
jornalismo.
Obviamente, Orlando aceitou a
condição. Foi gentilmente acompanhado até a rodoviária por Luiz, que disse ter
adorado o seu trabalho e garantiu contratá-lo tão logo ele obtivesse o tal
registro.
No dia seguinte, já foi à sua
faculdade para dar entrada no diploma, que só conseguiu no mês seguinte. Desde
então, Orlando continuou desempregado, à espera de um contato de Luiz para um
novo período de testes.
Trinta dias depois do teste em
Nova Friburgo, com o diploma na mão, Orlando enfrentou uma viagem de três horas
até Niterói para se registrar no sindicato estadual. O atendimento foi rápido,
mas ele enfrentou seis horas para voltar a Teresópolis, pois enfrentou um
engarrafamento monstro na estrada para Magé e depois um acidente na
serra.
Depois de três meses o registro
saiu. Orlando já não precisava mais dele. Soubera há um mês que a sua vaga na
emissora local de TV fora preenchida por uma amiga da filha de Luiz. Orlando
desistiu do jornalismo e virou historiador. O jornalismo lhe deu uma triste
história.
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