Conto de Gustavo do Carmo, baseado
na canção De Repente, Califórnia, de
Lulu Santos e Nelson Motta
Anunciou
para a namorada que iria pra Califórnia. Sonhava viver a vida sobre as ondas.
Ser artista de cinema. Achava que o seu destino era ser star.
Se
imaginava com o vento beijando seus cabelos, as ondas lambendo suas pernas, o
sol abraçando o seu corpo e acreditava que seu coração cantava feliz...
Para
ele, a vida passava lentamente e ele iria tão repente que não sentiu. Nem teve
oportunidade de sentir. Foi preso ainda no aeroporto.
Encontraram
três barras de cocaína em sua bagagem. Os cães farejadores beijaram seus
cabelos e lamberam suas pernas. Jurou inocência, mas não adiantou. Foi abraçado
por policiais militares quando tentou fugir. Acabou julgado e condenado. O
coração dos seus pais zelosos cantou triste.
O
tempo passou tão de repente que ele nem sentiu que já cumpriu a pena e seria
solto na semana seguinte. Sentiu saudades só da liberdade, porque da Califórnia
ele nem chegou lá. A prisão aconteceu no Rio de Janeiro.
Não
deixou de sonhar com a Califórnia. No sonho, também foi preso. Tentou dar uma
volta no guarda do presídio. Tentou pular o muro. Foi capturado e teve que
mergulhar no escuro da solitária. Na Califórnia é diferente, irmão. É muito
mais que um sonho. É a realidade.
Foi
acordado do sonho pelo carcereiro do presídio brasileiro. Seu alvará de soltura
já estava pronto. Teria que recomeçar a vida diferente.
O
garotão de vinte anos (hoje com quarenta), que dissera para a então namorada (hoje
casada com um empresário rico e mãe de quatro filhos) que iria pra Califórnia,
viver a vida sobre as ondas, ser artista de cinema e que achava que o seu
destino era ser star, agora trabalhava de trocador de ônibus. Tornou-se apenas
um artista da realidade e star da vida.
Foi
demitido quando um jovem passageiro entrou no seu ônibus ouvindo De repente, Califórnia sem fone de
ouvido.
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