Por Ed Santos
Os espaços foram ficando reduzidos, as paredes começaram a atrapalhar a circulação e pra ajudar, meu vizinho é arquiteto. Então, é hora de reformar a casa.
Foram alguns muitos dias de consultas em sites especializados, leitura de jornais e revistas de decoração e horas e horas debruçados sob papel e caneta, esboçando as mais loucas e improváveis plantas, vários rabiscos e muitas medições.
Integrar a sala de jantar à cozinha derrubando uma parede deixaria o ambiente amplo e ao mesmo tempo aconchegante. Uma porta balcão de vidro traria mais luz natural ao espaço e levaria ao jardim/lounge, um antigo sonho meu e de minha mulher. A mudança de lado da porta do lavabo presentearia a sala de estar com mais uma parede, mas traria um problema que tinha de ser resolvido: os braços do sofá em “L” deveriam mudar de lado. Comprar outro estava fora de cogitação.
O próximo passo era contratar o pedreiro. Uma indicação da minha sogra resolveu o problema: “Ele é um pouco lento, mas trabalha bem.” Ela afirmou com a garantia de quem teve as paredes pintadas recentemente. Marcamos numa segunda-feira pra acertar a contratação e os detalhes da obra. Valores acertados e todos os detalhes explicados por minha mulher deveriam ser seguidos à risca. “Começo na segunda bem cedo e num mês termino o serviço.” Então tá.
No sábado acordamos cedo e fomos às compras. Piso, cuba, papéis de parede, torneira de última geração (na promoção), e até os tapetes e as capas de almofadas, tudo certinho para ele começar na segunda.
No dia marcado, deixamos as chaves na portaria e fomos trabalhar. Passamos o dia com uma mistura de preocupação e ansiedade e o expediente demorou uma eternidade pra acabar, depois fomos direto pra casa. Como minha sogra já tinha avisado, não foi surpresa nenhuma ver o saldo do dia: uma parede derrubada e uma janela fora do lugar. Pelo menos era um começo. No segundo dia, um muro foi abaixo e a porta do lavabo também foi retirada. Só.
Nos dias seguintes as coisas não mudaram muito, mas mesmo assim confesso pela primeira vez na vida não estava estressado por conta de uma reforma.
Três semanas se passaram e o combinado pelo visto não iria acontecer. Depois não quero desculpa de que foi a chuva que atrasou tudo. Então, na noite passada resolvemos dar um “acelerão” no sujeito. Fizemos uma programação do que deveria ser feito nos próximos quinze dias, já considerando que ele vá precisar de mais uma semana pra terminar o serviço. Pelo que planejamos, até uma tartaruga termina aquela lista com folga.
Hoje, não diferente dos últimos dias saímos para o trabalho e deixamos de novo as chaves na portaria. Minha mulher ligou pra casa assim que chegou no escritório e deu as coordenadas. Até prometeu um adiantamento mais gordo pra animar o cara. À tarde quando chegamos o serviço não tinha andado. Uma “fiada” de tijolinho, um peitoril assentado e um tanque (quase) no lugar. Perdi a paciência. Saí pra comprar pão e quando voltei me tranquei no quarto, de onde só vou sair amanhã. Eu acho. O adiantamento pedido pelo ingrato, por motivos óbvios não vai ocorrer. Neste caso, ele é quem me paga!
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