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Empolgado, como se tivesse achado a cura definitiva do câncer, o editor-chefe do jornal ordena à sua secretária:
— Gabrielle, faz um favor? Faz uma ligação para a residência de Arnaldo Cervantes? Estão aqui os números do telefone e do celular dele.
Depois de alguns minutos, Gabrielle retorna o pedido:
— Não consegui falar com ele, seu Mário. O telefone de casa não atende e o celular está fora de área.
— Que pena! Depois eu ligo pra ele então.
Senhor Mário voltou para o seu trabalho, a revisão de uma matéria. Lucas Santos, principal repórter do jornal, entra na sala transparente do editor-chefe para lhe comunicar uma pauta:
— Chefe, acabei de receber a notícia de que um homem está lá no terraço do Avenida Central tentando se matar. Eu estou indo cobrir, O.K.?
— Está bem, Lucas. Mas antes de você sair, dê uma lida neste conto. Muito bom! Diz o editor, ainda com alto grau de entusiasmo. — Já encontramos o nosso colunista para o novo caderno de sábado.
Lucas lê o conto e dá um sorriso de aprovação. Pergunta:
— Esse Arnaldo Cervantes é pseudônimo?
— Claro que não.
— Então eu tenho quase a certeza de que é esse cara aqui que está tentando se matar lá no Centro. O tal potencial suicida se chama Arnaldo Miguel Oliveira de Cervantes.
A euforia de Mário dá lugar ao desespero.
A euforia de Mário dá lugar ao desespero.
— Está brincando! Por que você acha que é ele?
— Porque, pelo que apurei, esse tal Arnaldo é um aspirante a escritor que perdeu o pai recentemente e sua família está à beira da falência. Há quanto tempo ele te mandou esse texto?
— Faz um tempão. Só agora que eu tive tempo de ler. Mas será que é ele mesmo?
— Tá na cara que é ele. Tem foto dele?
— Deixa eu procurar o currículo.
Mário batucou o teclado do computador por um minuto enquanto via sua caixa de e-mails.
Mário batucou o teclado do computador por um minuto enquanto via sua caixa de e-mails.
— Achei um currículo com a foto dele. Nossa! Ele me mandou no ano passado. Agora sou eu que pergunto se você tem uma imagem dele.
— Não. Ainda não tenho. Mas liga a televisão que deve estar passando alguma coisa.
Mário liga a televisão e de primeira vê o trânsito parado, multidão de gente, corpo de bombeiros, polícia e repórteres. Em seguida aparece um close do rapaz, de cabelos pretos, cacheados e despenteados. Rosto abatido, olheiras imensas. Barba por fazer. Ele só grita:
— SE NÃO ME DEREM UM EMPREGO EU ME ATIRO DAQUI!!!!
A repórter da cobertura informa que ele não sequestrou ninguém e chegou ao terraço sem ser notado. Só foi percebido quando pulou no parapeito e começou a se equilibrar. Começou a gritar quando o segurança do edifício mandou ele descer. Então, ele começou a desabafar a mesma informação que Lucas havia dado sobre a sua situação familiar e econômica.
O que confirmou a identidade do suicida com o autor do conto nas mãos de Mário foi uma pinta na face esquerda, presente nas duas imagens: da televisão e da foto do currículo.
— É ele mesmo! Arnaldo Miguel Oliveira de Cervantes! Vai lá rápido, Lucas! Oferece a coluna para ele. Pode dizer que o salário é acima do mercado! Não perca tempo!
— O.K.! Vou lá correndo! Fui!
Quinze minutos depois, toca o telefone da sala de Mário:
— Chefe! Cheguei tarde demais! O Arnaldo acabou de se jogar do prédio. A voz de Lucas estava bem embargada.
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