Por Ed Santos
Enquanto tomo um café em pé, colado no balcão, vejo em sã consciência que as pessoas por aqui, não andam, elas perambulam. Sim, perambulam, com suas frivolidades e de mãos dadas à inocência de quem incansavelmente espera na fila para uma foto com o Papai Noel. E pagam por isso. Uma foto ao lado do velho bonachão de barbas brancas custa cinco reais.
Engraçado como as pessoas estão ansiosas e ao mesmo tempo pacientes. Umas ficam por aqui, horas paradas na fila, outras, horas andando pra cima e pra baixo, perambulando mesmo. Enquanto dou minhas goladas, um casal, que já passou por aqui umas duas vezes em menos de cinco minutos, continua sua ronda, e acho que eles ainda vão passar por aqui outras vezes. Eles talvez estejam a fim de tirar uma foto com o Papai Noel, mas estão sem paciência para enfrentar a fila, ou simplesmente estão perambulando mesmo.
A moça que pagava um café aqui do lado, espera pra ser servida, enquanto a crise do petróleo e a prisão do chinês contrabandista, são os ícones da imagem projetada nas telas espalhadas pelas prateleiras da loja em frente. Será talvez que os enfeites da árvore de natal são de origem desconhecida? O casal dá mais uma volta por aqui. Pura apatia, enquanto a mulher toma o último gole do seu café, e sai.
Eu fico por aqui a apreciar um pouco mais o movimento(?), sem saber ao certo se vou entrar naquela fila e dar um abraço no Papai Noel, ou se saio por aí à vaguear pelos corredores sem me importar com o amanhã.
A indecisão não me seduz e resolvo então sair e andar (ou será perambular?) um pouco. Saí sem compromisso daquele café e caminhei em direção a lugar nenhum, apenas andei. Continuava a minha observação, agora de outro nível, mas com a mesma sensação de perceber as pessoas e seus comportamentos. Não consigo me lembrar de muita coisa, apenas lembro que em dado momento, dei de cara com a mulher que estava tomando café no mesmo local que eu. Ela estava saindo de uma loja. Vi-me, então, interessado apenas em observar àquela mulher, cada passo que dava.
Ela me pareceu a única diferente naquele local, não estava andando por aí sem destino, parecia ter um objetivo definido. Seus passos eram firmes e ela seguia determinada. Eu acompanhava com olhares, só de longe. E ela continuava na sua caminhada. Em alguns momentos diminuía a velocidade, e parecia que ia parar, mas continuava o percurso. Nem ela e nem eu olhávamos para os lados, ela dedicada em sua trilha, eu dedicado em saber aonde ela iria.
Só percebi onde estava quando ela parou em uma fila, e ali ficou. Eu, pra disfarçar e não me deixar perceber, parei pra tomar outro café, e fiquei ao longe. Alguns minutos passaram, um homem acompanhado de uma linda menina se aproximou da mulher e lhe deu um beijo no rosto. Ela abaixou, beijou a linda menina, e continuaram ali naquela fila. A menina não escondia a ansiedade de registrar em foto a felicidade de ver o Papai Noel de perto. O movimento lá fora continua, e meu segundo café já está frio. Aquele casal que dava voltas por ali, agora estava também naquela fila. Talvez tenham deixado de lado a impaciência, ou talvez não queiram mais perambular por ai.
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