hoje vou de mini-conto...
Por Ed Santos
Quando percebi, já estava com o globo ocular direito nas mãos, e pedindo pra ser liberada logo porque tinha prova de anatomia na primeira aula. A enfermeira me explicou que aquele punhal, arremessado por alguém do lado de fora do trem, estava enferrujado e eu teria que ficar em observação. Era alto o risco de tétano. Permaneci ali por mais um tempinho sentada na maca até que um rapaz entrou na sala dizendo ser o operador de raios-X, e que precisava providenciar algumas radiografias dos seios da minha face. Conheço bem o procedimento. Pediu que eu deitasse encostando o rosto naquela maca gelada, e tirou a primeira chapa. Depois pediu pra virar de lado, agora sem a atadura que protegia o buraco sangrento do meu rosto. “Senão queima”, disse ele. Fiquei lisonjeada quando olhando para minha ficha, ele murmurou sentir-se atraído por mulheres com olhos de cores diferentes. Os meus, um era verde, o outro azul, da mesma cor do cabo do punhal que o perfurou.
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