Uma Mistura Quase Perfeita
Por GUSTAVO DO CARMO
Ruy Castro ficou famoso por suas biografias que sempre figuraram na lista dos livros mais vendidos. A bossa nova (Chega de Saudade), o Rio de Janeiro (Carnaval de Fogo), Nelson Rodrigues (O Anjo Pornográfico), Garrincha (A Estrela Solitária) e Carmen Miranda foram os personagens que tiveram seus segredos revelados por esse rubro-negro carioca apaixonado.
Uma das poucas investidas do escritor na ficção, Era no Tempo do Rei, a princípio, parece mais um livro com a pretensão de comemorar os 200 anos da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, que se completam hoje. Para não deixar de lado a sua habilidade de pesquisador, Ruy misturou cenas verdadeiras da cidade no início do século XIX com uma fictícia amizade entre o príncipe D. Pedro, futuro primeiro imperador do Brasil, então com 12 anos, e Leonardo, um menino abandonado pelos pais, um casal de imigrantes portugueses e que morava com o padrinho, o barbeiro Quincas, mas adorava fugir e viver correndo pelas antigas ruas apertadas e sujas do Rio na época da chegada da Corte. Leonardo já nasceu da ficção, pois é o futuro sargento do romance de Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Os dois passam a ser os protagonistas do romance ao se conhecerem na Torre da Igreja da Candelária, quando Pedro fugia de um dos diversos apuros que costumava se meter. E é a partir deste ponto que a trama se desenvolve e empolga a leitura, que se limitava a uma descrição lírica de um Rio de Janeiro jovem, restrito ao Centro, à Zona Sul, São Cristóvão e suas ruas narradas pelo nome original, além das praias ainda existentes. D. João e Carlota Joaquina são apenas personagens coadjuvantes deste romance, mas ajudam a movimentar o enredo.
Ao mesmo tempo que tem uma linguagem coloquial, típica do autor, o texto prima pela qualidade lingüística, com um toque de linguagem clássica que remete aos romances de Machado de Assis. Por esse motivo, tive um pouco de dificuldade para entender e me interessar pela história. Isso aconteceu até o quarto capítulo. A partir de então, ela se mostrou ágil e atraente como anunciado.
SOBRE O LIVRO:
Era no Tempo do Rei
Ruy Castro
Alfaguara (Objetiva)
Formato (larguraxaltura): 15x23,5 cm
248 páginas
Preço de mercado: R$ 36,90
Excepcionalmente, a Resenha desta Quinzena está sendo publicada numa sexta-feira. É que hoje, dia 7 de março, comemoramos os 200 anos da chegada da Família Real no Rio de Janeiro. Por isso, o leitor deve ter percebido a antecipação da participação semanal do colunista Dudu Oliva para ontem. O meu texto artístico de sábado será publicado na quarta-feira. Dois dias depois, volta o texto do Dudu e, no sábado, novamente o meu texto nos seus dias habituais. Não haverá mudança na programação da Dica da Segunda. A próxima resenha será publicada normalmente na quarta-feira, dia 26.
4 Comentários