A PACIÊNCIA DO MONGE


Conto de Gustavo do Carmo



Já tentei psicólogo, psiquiatra, acupunturista, cultura indígena, confissão ao padre, descarrego e até macumba para tentar acabar com a minha imaturidade e insegurança pessoal. Como eu sou brasileiro e não desisto nunca, por enquanto, vou apelar para mais uma consulta. Agora num templo budista.

Um amigo de Teresópolis me indicou e decidi viajar até lá, não para ouvir conselhos, mas para desabafar os meus problemas. Entrei no templo. Caminhei até o final da nave, onde um monge já idoso, com traços orientais, parecido até com o Dalai Lama, vestindo uma bata laranja e lenço amarelo, meditava em silêncio, sentado com as pernas perfeitamente cruzadas.

Fiquei sem graça de interrompê-lo. Sentei-me à sua frente e compartilhei o seu silêncio. Dois minutos depois, finalmente, ele perguntou o que eu queria, sem interromper a sua meditação.

Falei sobre mim:

— Amado monge, sou uma pessoa honesta, gosto muito de escrever, sonho em ser um escritor famoso, mas apenas pelo meu nome. Ser independente e ganhar dinheiro com o que eu produzo, mas não consigo. Sou tratado como imaturo aos 35 anos. Todos os meus primos com essa idade já estão quase se aposentando, já têm filhos de dez anos...

— E por que não consegue? Perguntou o monge, sem mover um músculo.

— Sei lá, acho que é porque sou muito sincero. As pessoas não gostam de sinceridade. Também sou muito tímido. Só consigo me expressar bem quando eu estou bem preparado. Parei de falar e um silêncio reinou por um minuto no templo. Enfim o monge perguntou:

— E por que você não se prepara?

— Porque me falta tempo.

— E por que te falta tempo?

—Não sei dizer. Acho que é porque penso demais nos meus problemas, nos meus sonhos, além de produzir meus textos. Sou sonhador demais.

— Me diga como você pode realizar o seu sonho?

— Produzindo e conhecendo alguém influente para me indicar.

— E o que te impede de realizar este sonho?

— A minha insegurança, meus medos e a minha sinceridade, pois ninguém gosta de sinceridade demais, né?

— Qualquer coisa exagerada nunca é bom. Mas se você usar a sua sinceridade com moderação, pode conseguir o que deseja. Agora me diga: se realizar os seus sonhos, o que vai acontecer com você?

— Vou ganhar dinheiro, ter o meu nome conhecido, arrumar uma mulher, casar, ter filhos e, sem querer, (querendo para algumas pessoas) abandonar os amigos. Serei feliz, acho.

— Por que você acha que vai abandonar os seus amigos?

— Porque as realizações modificam a rotina e fazem com que eu não tenha tempo para eles, assim como aconteceu com muitos amigos que me abandonaram e usaram essa desculpa.

— E se você não realizá-los? O que vai acontecer com a sua vida?

— Vou perder dinheiro. Ficar pobre de tudo, continuar sendo esquecido, perder meus pais, ser motivo de piada... Ou desistir de tudo isso, que é a previsão mais otimista.

— Qual é a sua maior qualidade, além da honestidade?

— A educação e o respeito ao próximo.

— E o maior defeito, além da sinceridade, insegurança, imaturidade e também a preguiça.

— O senhor me acha preguiçoso?

— Senti uma preguiça em você. Acho que isso te atrapalha também.

Contrariado, concordei com o monge, que em seguida ficou uns dois minutos sem falar nada. Continuou na mesma posição que estava quando eu cheguei. Enfim, deu o seu conselho:

— Você tem que parar de criar barreiras para realizar os seus objetivos. Percebo que você é muito preso aos seus medos. E pare de depender dos outros e da sociedade. Se preocupe mais com você.

— Mas se eu me preocupar mais comigo vão dizer que sou egoísta.

— Olha aí. Mais uma vez você está se preocupando com os outros. Com a opinião dos outros. Se concentre no que você pode fazer para si mesmo e ser feliz. Conquiste os seus objetivos concentrado em você e não nos outros.

— Você quer dizer que...

— Isso mesmo. Batalhe e vença sozinho. Só assim você vai fazer com que os outros te valorizem. E desnude-se dos seus preconceitos.

— Muito obrigado, senhor monge. Me desloquei do Rio até Teresópolis, em duas horas de viagem, para ouvir que eu preciso me virar, além de ouvir tudo o que já me disseram. Agradeci, com ironia.

— E seja mais educado com os outros também. O que você queria encontrar aqui? Emprego? Ora, faça-me o favor!

— Eu vim para desabafar.

— Mas eu não sou psicólogo.

— Mas é um monge. Deveria ser mais paciente.

— Mas eu sou humano. Perco a paciência com teimosias e com falta de educação. Além do mais, você disse que outra qualidade era a educação e respeito ao próximo, mas não estou vendo isso agora.

— E você está dizendo que eu sou mentiroso?

— Mentiroso não. O mentiroso age por má fé. Diria que você é um contraditório, uma forma mais suave para não te chamar de hipócrita.

— Então passe bem, senhor monge. Dá licença que eu vou embora.

Saí furioso do templo. Além de ficar mais tenso fui chamado de hipócrita. Consegui tirar a paciência de um monge, mas não consigo resolver os meus problemas.

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