Tirou notas baixas o ano
inteiro. Comportou-se muito mal durante o período letivo. Pedrinho acabou
ficando em recuperação. Seus pais exigiam que ele passasse de ano. Recebia
bolsa parcial para estudar porque o seu pai estava achando o colégio particular
muito caro.
Veio o dia da prova. O professor, daqueles de cabelo comprido, barba até o peito, muito magro, olhos azuis, que só vestia vermelho e andava de saia e chinelos, escreveu no quadro:
“Fazer uma dissertação sobre
o Golpe de Estado que o Brasil sofreu este ano”.
Revoltado, ele questionou o
professor:
— Professor, que golpe de
estado sofremos este ano?
— Você passou o ano inteiro
brincando, na molecagem e nem viu ou leu os jornais, né?
— Jornais realmente eu não
li, professor! Estão todos corrompidos pela esquerda. Eu conversei foi muito
com o meu avô, que viveu no regime militar.
O professor bateu forte na
mesa e gritou!
— Então o viés golpista está no sangue! Você apoia o golpe!
Mais indignado ainda,
Pedrinho repetiu o gesto do professor e também bateu na mesa, gritando:
— Não houve golpe nenhum! O
que houve foi um processo democrático de impeachment, motivado pela má
administração da PresidentE (ele enalteceu a letra E no final) da República e
não presidenta como vocês jumentos gostam de falar! Ela cometeu crime de responsabilidade! Vocês da
esquerda que fizeram uma manobra para preservar os falsos direitos políticos
dela! Para que ela possa voltar como senadora ou ministra em uma eventual eleição
antecipada que vocês estão tramando para derrubar o vice-presidente, que foi
eleito democraticamente junto com ela! Vocês esquerdistas estão doutrinando as
escolas! Por isso que eu não estudei nada este ano! Preferi, sim, ficar na
molecagem da internet, da televisão culta a esse lixo de inversão de valores
que vocês estão ensinando! Só sexo, drogas, vadiagem, vitimização excessiva,
luta de classes, raças e opções sexuais na mídia! O verdadeiro golpe quem deu
foi o PT! E eu quero mais é que tenha um novo regime militar, para botar ordem
nesse país governado por ladrões, como aquele barbudo salafrário, que é quem
está tramando para voltar ao poder! Se não fosse o impeachment o Brasil viraria
uma Venezuela e, quiçá, uma Cuba! Eu prefiro levar zero e repetir de ano a
sofrer lavagem cerebral de um método comunista de ensino!
Logo foi vaiado por todos os
seus colegas!
— Chega! Você está expulso
dessa escola!
— Ótimo! Obrigado!
Pedrinho saiu da sala,
batendo a porta, ao som de risos e vaias dos seus colegas. Chegou em casa e
comunicou aos pais que repetiu de ano porque não queria fazer redação
defendendo governo socialista. Levou imediatamente uma surra do pai, que falou
depois:
— Seu burro! Imbecil! Onde é
que você vai estudar agora? Todas as escolas estão assim! Você vai crescer sem
estudar para ficar igual ao ex-presidente ladrão e a ex-presidenta
incompetenta? Tem que ser político! Eu já falei mil vezes! Mas você não vai ficar
sem estudar! Vai para uma escola pública, sim! Onde vai viver em greve,
motivada por esse mesmo tipo de professor! Vai estudar durante o verão, sem ar
condicionado, para repor as aulas que ficaram suspensas durante a greve!
O pai de Pedrinho ficou uma
semana sem falar com ele. Voltou a falar somente no Natal, quando, de cabeça
fria, se desculpou, o elogiou, não pela sua posição política, mas pela sua
argumentação, e deu o notebook de presente que ele pediu. Na semana seguinte, o
matriculou no Colégio Militar, a pedido do próprio filho, que voltou uma série,
mas nunca mais repetiu de ano.
Tornou-se militar, casou-se
e teve dois filhos. Pedro e os meninos viraram políticos de extrema-direita e
foram ridicularizados pela mídia vermelha. Mesmo assim, dizia orgulhoso:
— Obrigado, papai!
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