Caminho
pelo centro da cidade. Alguém me segue. Atravesso a rua. A pessoa me acompanha.
Uma mulher. Loura e alta. Seus olhos só não são apresentados porque ela usa um
par de óculos escuros Ray Ban. Paro repentinamente. Ela segue o seu caminho. Para
de me seguir.
Volto
a andar. Novamente alguém me segue. Desta vez é um senhor de cabelos grisalhos
e despenteados. Barba por fazer. Muito gordo. Usava uma camisa branca com listras finas, que
mal cabia em sua barriga gigantesca, e uma calça jeans surrada. Aperto o meu
passo. Ao contrário do que eu imaginava o homem também acelera. Entro em uma
lanchonete. O homem gordo toma o sentido oposto e atravessa a rua, alheio ao
meu medo.
Depois
que eu acabo de comer um hambúrguer, uma batata frita e um refrigerante,
recomeço o meu caminho. Foi só olhar para trás para perceber que agora sou
seguido por uma senhora de cabelos tingidos de vermelho que também estava na
lanchonete e que me olha com cara de poucos amigos. Tento disfarçar o meu
temor, andando como se nada estivesse acontecendo. Sinto tensão por estar sendo
seguido. Paro em uma banca de jornal. A senhora passa direto.
A
senhora ruiva é substituída por uma bela morena de olhos verdes e blusa
decotada. Tenho vontade de perder o medo e inverter o papel. Eu a seguindo para
devorar o seu belo corpo. Por enquanto, continua como está: ela me seguindo e
eu com medo. Vejo um homem forte e de óculos escuros que acena. Gelei. O cara
parecia dizer: “Pega que é ele!”. Quase caguei nas calças. O homem sorriu e foi
ao encontro da mulher gostosa atrás de mim. Beijaram-se apaixonados. Fui embora
mais tranqüilo.
Entra
em cena para me perseguir um policial. Ele parece ser ainda mais agressivo. Dá
para notar pelo seu olhar. Volto a apressar o meu passo. Entro em uma
tabacaria. Fico observando aqueles charutos cubanos que custam, por unidade,
três vezes mais que o meu salário. O balconista me pergunta com simpatia se eu
desejo alguma coisa. Digo apenas que eu só estava paquerando os produtos.
“Fique à vontade”, disse, rindo das minhas palavras. Um velhinho franzino,
cabelos e cavanhaque totalmente brancos. Sotaque libanês. Fico na tabacaria por
mais cinco minutos. Quando saio, olho para trás e revejo o guarda, que ainda me
observa. Volto para dentro da loja.
O
velhinho pergunta se eu estou com algum problema. Digo que não. Ao ver o guarda
pela vitrine, parado na porta de sua tabacaria, o libanês muda de tom e fecha a
cara para mim. Não me expulsa. Eu mesmo tomo a iniciativa de sair e também a
coragem para enfrentar a minha prisão.
O
guarda grita: “Ô vagabundo!”. Paro rendido e resignado. O policial, já
empunhando o cacetete na mão esquerda, me empurra e passa por mim. Seu alvo era
um menino de rua, que rapidamente é imobilizado e espancado pelo homem da lei.
Aliviado,
volto a caminhar pelo centro da cidade. Desta vez, sem ser seguido por ninguém.
Livre para reiniciar a minha perseguição à esposa de um milionário que me
contratou e pagou uma nota para eu descobrir se a moça está saindo com o seu
motorista.
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