Nunca se atrasava, mas era sempre
o último a chegar. Na escola, na faculdade, no trabalho, nos eventos
familiares... na vida.
Zulmiro era o último filho de
cinco irmãos. Quando a sua mãe estava grávida, várias colegas de trabalho dela
também esperavam seus filhos. Algumas esperavam o primeiro, outras o segundo e
as demais, o terceiro. Uraniana esperava seu último. Depois que Zulmiro nasceu,
teve uma complicação no parto e ficou estéril.
Por causa desta enfermidade com a
sua mãe, Zulmiro foi o último a deixar o berçário da maternidade. Teve alta
para uma vida de últimos lugares. Era o último a ser chamado em todas as listas
por ordem alfabética. Do pré-escolar à faculdade. Nunca inverteram a lista para
lhe chamar em primeiro lugar.
Em casa era sempre o último a
sentar-se à mesa. Os irmãos do meio até brigavam com ele, porque a comida só
seria servida quando Zulmiro chegasse. Mesmo ele sendo o último na preferência
dos pais. Afinal, por culpa dele, a mãe quase morreu. Era sempre esquecido pela
família.
Por isso, Zulmiro tornou-se alvo
de bullying em casa. Na escola
também, mas nesse caso por causa do seu nome e do seu físico franzino. Sofria
com as humilhações dos irmãos e dos colegas. Isso influenciou no seu rendimento
escolar e ele foi o último dos filhos de Seu Uzair e Dona Urânia a aprender a
ler. Era sempre o último a terminar os deveres e sair da escola todos os
dias. Seu pai só o levou ao psicólogo em
último caso.
Zulmiro adorava corridas. De
qualquer coisa: pessoas, cavalos, cachorros, carros, motos, etc. Sempre que
torcia para alguém a sua aposta chegava em último. Ficou com trauma. Decidiu
apenas curtir. Não queria competir porque sabia que chegaria em último. Ele
mesmo chegava quando disputava uma corrida com os amiguinhos ou os irmãos.
No futebol, chegava sempre em
último nas jogadas. Era o que fazia mais faltas. Vivia sendo expulso. Decidiu
não torcer por ninguém para que o seu time não chegasse em último nos pontos
corridos e não fosse rebaixado.
Zulmiro cresceu. Como último dos
irmãos, claro. Também foi o último a amadurecer. E a entrar na faculdade, na
qual conquistou a última vaga. Cursou jornalismo, onde manteve a rotina de
chegar sempre em último, mas nunca atrasado. Era sempre o último a saber das
notícias. E chegava em último na corrida atrás da notícia.
Nunca conseguiu exercer a
profissão de jornalista. Precisou trabalhar, pois a vida dos seus pais estava
nas últimas e era sempre o último a ser lembrado pelos irmãos. Conseguiu um
emprego de vendedor. Era sempre o último a cumprir as metas, mas cumpria.
A sua vida de últimos lugares
começava a mudar. Casou-se com a última herdeira de uma família aristocrática. Viúva
de um ex-padre, Vânia ainda tinha as suas últimas riquezas. Aos cinquenta e um
anos, Zulmiro foi o último dos seus irmãos a se casar, mas o primeiro a ficar
rico. Apesar de apoiado pela esposa, era constantemente traído por ela com outros
homens e ele era sempre o último a saber.
Mesmo assim, tiveram uma única
filha porque era a última chance de sua mulher, quase na menopausa, engravidar.
A criança foi batizada de Adane, para que ela fosse sempre a primeira a ser
chamada e não ter o destino de último do pai, Zulmiro, que só nos seus últimos
anos de vida riu melhor, mas riu por último. Somente agora tinha entendido a
piada.
O Tudo Cultural entra de férias a partir deste conto. Agradeço aos leitores pela audiência e aos colaboradores João Paulo Simões, Dudu Oliva e Hermerson Miranda pela dedicação em 2012. Desejo a todos vocês um Feliz Natal e um 2013 repleto de paz e realizações.
O blog não ficará parado. Nos dias 24 e 31 de dezembro entram no ar os contos de Natal e Ano Novo. E depois dessa data farei uma reapresentação de três contos publicados este ano como retrospectiva. Os colaboradores também podem programar os seus durante o período.
Os meus contos inéditos voltam no dia 28 de janeiro. Sim. Em novo dia: agora todas as segundas-feiras. Até lá!
O Tudo Cultural entra de férias a partir deste conto. Agradeço aos leitores pela audiência e aos colaboradores João Paulo Simões, Dudu Oliva e Hermerson Miranda pela dedicação em 2012. Desejo a todos vocês um Feliz Natal e um 2013 repleto de paz e realizações.
O blog não ficará parado. Nos dias 24 e 31 de dezembro entram no ar os contos de Natal e Ano Novo. E depois dessa data farei uma reapresentação de três contos publicados este ano como retrospectiva. Os colaboradores também podem programar os seus durante o período.
Os meus contos inéditos voltam no dia 28 de janeiro. Sim. Em novo dia: agora todas as segundas-feiras. Até lá!
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