Um mosquito rondava
sua cabeça. Ele ainda não percebera. Estava focado em sua missão de lavar toda
aquela louça acumulada durante um dia inteiro cheio de cafezinhos e a lambança
que fez ao cozinhar o molho do macarrão. Estava enxaguando os copos. O mosquito
o rondava.
Não lembrava quando
pegou tanta birra contra mosquitos, moscas, baratas... Na verdade todo tipo de
inseto. Pensava seriamente em ir consultar um psicólogo. Ao ver qualquer um
deles, uma terrível raiva tomava conta de si. Passava a não ver nada além do maldito
voador. Geralmente voavam, e a tarefa de exterminá-los se tornava ainda mais
árdua.
Terminara de enxaguar
os copos. Uns oito. Passaria para a panela. A pior parte. Se pudesse, pagaria
alguém apenas para lavar as panelas. Não precisaria fazer mais nada. Apenas
entrar em sua casa, lavar as panelas e ir embora. O resto ele não se importava.
O mosquito continuava
rondando sem ele perceber.
Colocou mais
detergente na esponja já gasta e pegara a infeliz. Cerrou os olhos. Fez uma
careta de nojo. Encarou-a por um momento como se ela fosse fazer o trabalho
sozinha. Começou a esfregar. Começou por dentro, depois passou a esponja por
fora. Por último o cabo. Enxaguou. Ainda estava engordurada. Cerrou os dentes.
O mosquito ainda rondando. Ele sem perceber. Ainda mais agora que estava focado
na terrível panela em suas mãos.
Colocou-a de lado e debruçou-se
sobre a pia. Respirou fundo. Fechou os olhos. Sentiu algo em seu nariz. Bem
sutil. Como as finas patas de um certo inseto. Rapidamente pegou a esponja. Bateu-a
em seu rosto. Junte a raiva da panela com a do mosquito e você terá uma
ineficiente máquina de matar.
Ele passou zumbindo
por sua orelha, o que só o deixou ainda mais nervoso. Foi correndo até a
dispensa. Pegou o inseticida e apertou a lata o mais forte que pode, andando de
um lado para o outro da cozinha, da sala, mirando nas paredes e nos cantos onde
o inseto poderia ter se escondido.
Cansou-se. Pôs as
mãos sobre o joelho. Sentou-se no sofá. Respirava rápido por conta do esforço.
O cheiro do veneno entrando em suas narinas, fazendo o espirrar. Mas tudo
valeria à pena quando ele visse o bicho morto. Tirou o sabão de sua cara e
deitou a cabeça no sofá. Descansou por alguns segundos.
Voltou sua atenção ao
mosquito. Tentou ver onde estava. Não ouvia nenhum zumbido agora. Viu, bem ali,
na parede atrás do sofá. Deu um tapa e matou o mosquito, que grudou na parede
branca. Uma imensa alegria tomou conta de seu peito.
Começou a rir
incontrolavelmente. O vizinho do apartamento ao lado gritou para que ele
parasse com essas coisas de louco. Ele continuou, mais alto agora, só para
provocar. Ficou sem fôlego, mas ainda com um sorriso de orelha a orelha.
Até voltar para a panela
na cozinha, que havia esquecido completamente. Pensou seriamente em passar a
pedir marmitex da lanchonete ao lado.
Conto de Lucas Beça
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