6 DECIGRAMAS

Por Ed Santos

Não queria sair naquela noite o Luciano. Recebeu um convite logo de manhã, mas não estava animado para reuniões sociais. O Tico tinha conseguido o telefone daquela morena e convenceu a moça para ir também. Pensou que iria animar o amigo pra ir num barzinho tomar alguma coisa, papear, e quem sabe algo mais interessante no fim da noite.

- Vâmo lá cara! Todo mundo vai pra lá. Aquela morena da semana passada confirmou também!
- Sei não cara. Num tô com vontade não.
- Cê que sabe! Acho que a noite vai ser bacana.
- Sei lá. Quem sabe eu mudo de idéia até o fim do dia.

E foi assim, o Luciano pensou no convite do amigo o dia inteiro, mas não conseguiu se decidir.
Nem a presença da morena interessante da outra noite, lhe animara.

Entrou na internet, num desses portais de notícia e navegou desinteressado. Chamou-lhe a atenção uma notícia sobre a nova lei que institui o não consumo de álcool antes de dirigir automóveis. “Fiz bem em não ir. Já pensou se tomo uma cervejinha e sou parado pela polícia na volta?”. O corretor resolve ir embora pra casa. Despede-se de todos no escritório e segue se rumo.

No outro dia ao chegar no escritório, como de costume, vai até a copa tomar um cafezinho, e enquanto queima os dedos no copo descartável, tem que atender ao celular. O Tico liga pra contar sobre a noite de ontem. Ele logo vai dizendo que a decisão do colega foi acertada. Foram, o Tico e a turma, inclusive a morena, ao bar onde sempre se reuniam. Umas cervejas e outras depois, resolveram ir embora. Como de costume, não abusam da bebida, pois sabem dos riscos no trânsito, e foram embora cedo, antes da meia-noite. No caminho, a surpresa. Uma blitz da polícia pra checar a quantas anda o nível de álcool dos boêmios. No caso, estavam sendo utilizados aparelhos descartáveis. Funciona assim, o abordado sopra dentro de um envelope de plástico até encher, depois encaixa um tubo com cristais amarelos de cromo, e aí então passa a esvaziá-lo. Se os cristais ficarem verdes até ultrapassar uma marca preta no tubo (o limite são 6 decigramas), o motorista que passar pelo teste, pode ser punido com prisão e multa.

Ora, o fato então passa a ser o tal bafômetro, e não o Luciano não ter ido ao bar com os amigos. “Que fim que deu, então? Você fez o teste?”. O Tico continua e revela que quando é chegada sua vez de soprar no envelope, os policiais percebem a falta de artefato. Não havia sobrado nenhum mais, pois eram todos descartáveis e já tinha sido utilizado todo o lote.

O Luciano deu risada da situação e falou ao amigo que até tinha decidido ir na última hora, e se bebesse iria voltar de taxi. Ou então quem sabe, tomar só suco, ou refrigerante. Mesmo assim, pelo visto garantiria o seu retorno pra casa sem problemas.

Tem coisa que não dá pra prever, nem quantas cervejas você vai tomar, nem se a polícia vai parar, e muito menos que não vai ter bafômetro pra todo mundo.

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