Uma história de--: Dez


Ei.
Marcelo cutucou Lívia com o joelho.
Ela gemeu.
Hã...?
Café.
Ela demorou um pouco a responder.
Mais café?
Ué, não quer?
Quero sim.
Disse tudo isso de olhos fechados.
Ele colocou o copo dela próximo ao seu nariz.
Ela sorriu.
Lentamente sentou-se no sofá. Ele estendeu o copo. Ela aceitou.
Ah, esqueci de te falar. Tem uma banda foda que eu descobri.
Ah é? Qual?
Chama Dorothy.
Marcelo riu.
Tipo a menina do Mágico de Oz?
Ai, ai, sabia que você ia falar isso. É meio rock, com blues e metal e lembra um pouquinho country às vezes.
Humm, vou dar uma olhada depois.
Lembra a música daquela série que a gente assistiu... como é que chama? Wynonna alguma coisa.
Wynonna Earp?
Isso, essa mesmo.
Legal.
Lívia tomou um gole do café.
Esse está melhor que o meu. E também não está fervido.
Não sei por que você ainda usa o bule. Só por que eu que te dei a cafeteira?
Não, é que eu gosto do desafio.
Disse com uma risada.
Os dois tomaram um gole cada.
Vamos lá, eu trouxe pão. Tá fresquinho.
Já vou.
Marcelo levantou-se e foi sentar-se à mesa.
Lívia entrou no banheiro. Deixou a porta aberta.
Depois de mijar, ela lavou o rosto e tirou a maquiagem já borrada naquele ponto. Saiu dali, entrou no quarto e voltou à cozinha com uma camiseta e uma calça legging. Estava descalça.
Marcelo estava passando margarina na outra metade do seu pão.
Uau!
O que foi?
Cadê aquela moça bonita de vestido que estava aqui agora?
Cala a boca.
Marcelo sorriu e voltou-se para sua metade.
Lívia pegou a caixa de leite da geladeira. Estava quase vazia. Despejou no copo, mas não era o suficiente. Foi até ao armário e pegou outra caixa. Abriu-a, completou o copo e o colocou no microcondas. Um minuto.
Encostou-se à pia, de braços cruzados.
E a dor de cabeça, já passou?
Disse Marcelo, virando-se para ela.
Tá passando.
Humm...
E a sua?
Passou, agora ta voltando... sabe como é que é.
O celular de Marcelo começou a tocar um jazz de big band.
Pô, jazz não, né Marcelo.
Troca aí.
Ela pegou o celular. O microcondas apitou.
Ela colocou uma do Aerosmith e devolveu o celular na pia.
Aí sim.
Disse Marcelo enquanto pegava seu copo de café, quase acabando.
Lívia pegou seu copo de café com leite do microondas e sentou-se à mesa.
Ela tomou um gole. Fez uma careta e pegou o pote de açúcar.
Colocou mais duas colheres.
Mexeu.
Não acha que tá exagerando?
Fica quieto. Eu não falo nada dos seus cigarros.
Agora não, mas antes falava pra caralho.
É, mas eu não falo mais.
Ela tomou um gole para experimentar. Dessa vez não teve careta.
Ah, eu to tentando parar.
Humm.
O quê? Não acredita em mim?
Não, acredito, acredito sim.
Disse com sarcasmo.
Fumou quantos hoje?
Hã... só metade. Eu acendi um, fumei metade e joguei fora.
Parabéns.
Valeu.
Ela pegou um pão, corto- e passou margarina.
Me passa o queijo.
Marcelo passou o queijo.
Será que ainda tá bom?
Marcelo deu de ombros.
Lívia analisou por alguns segundos.
Ah, tá sim. É queijo. O que pode dar errado?
Cortou três fatias e colocou-as no pão aberto cheio de margarina.
Fechou e prensou o pão com a mão.
Por que você faz isso sempre? Coitadinho do pão. O que ele te fez?
Lívia olhou para ele bem séria.
Marcelo, esse é o único jeito de preparar um pão. É o que todo mundo devia fazer.
Os dois riram.
Marcelo fez outra canoa com a metade de outro pão que ele cortou.
Os dois começaram a comer.


Décimo capítulo do conto de Lucas Beça


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