Cartas para ninguém (9, 10, 11 e 12)



- 9
Hoje eu acordei cedo demais.
Não conseguia dormir. Ainda não tinha nem amanhecido.
Liguei a TV e estava passando uma reprise de luta livre. E em equipe ainda.
Você ficaria “cricrizando” no meu ouvido até eu mudar de canal, falando como aquilo era falso, como dava pra ver que aquilo era ensaiado, que às vezes os caras nem se batiam, que as mulheres são tratadas como objetos à mostra, pior do que aquelas que entram no ringue segurando a placa do round nas lutas de boxe.
Eu aumentei o volume e os gritos da torcida e os comentários idiotas dos comentaristas encheram a sala.


- 10
Ontem a noite eu simplesmente coloquei o pen drive no DVD e apertei o aleatório.
Depois de três músicas esquecíveis, começou a tocar “The Real Folk Blues”, do fantástico anime Cowboy Bebop, que a gente assistiu inteiro quantas vezes...? Cinco? Seis?
Isso sem contar os episódios soltos e o filme.


- 11
Essa semana não aconteceu nada de mais.
Trabalhei lá na locadora, assisti alguns filmes, fui te visitar no hospital...
O de sempre.


- 12
Ontem chegou a última temporada de Grey’s Anatomy na locadora. A única que eu não baixo pra assistir antes. Espero chegar em DVD e assisto tudo de uma vez. Acabo com a temporada e pronto.
Sempre que você me via assistindo, perguntava por que eu ainda assistia “essa porcaria”.
Eu sempre respondia: “Ah, é legalzinha...”, e você fazia uma careta.
Acho que você também me perguntaria por que eu escrevo essas cartas.
Eu faço isso simplesmente porque a alternativa é não fazer nada.


Parte 3 do conto de Lucas Beça

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