Victor
já nasceu um vencedor. Foi o primeiro bebê do ano e por isso seus pais ganharam
um bom prêmio de um fabricante de fraldas. Também o elegeram a criança mais
bonita do bairro, da cidade e do Brasil.
Aos
quatro anos foi a mesma coisa. Nunca perdeu um concurso infantil de beleza em
sua vida. Quando entrou para a escola, no ano seguinte, participou e ganhou um
concurso de desenho.
Aos
oito, entrou para a escolinha de futebol. Sem posição de linha no time, virou
goleiro. Não tomou um gol enquanto jogava e ganhava concursos de redação e
olimpíadas de matemática no primeiro grau colegial.
A
adolescência chegou junto com uma miopia galopante e espinhas borbulhantes. A
beleza campeã foi embora com a infância. Deu lugar a feiúra. Mesmo assim,
Victor não deixou de ser um vencedor. Participou brincando de uma competição de
homem mais feio do país. A decisão dos jurados foi unânime.
Aos
vinte, entrou para a faculdade de direito. Até então, jogava no time do colégio
de ensino médio, várias vezes campeão invicto dos torneios inter-colegiais,
além de ter passado por todas as categorias de base do futebol de campo. Quase
se tornou um jogador profissional. Encerrou a carreira sem tomar um gol.
Cinco
anos depois estava formado como advogado. A fealdade foi embora junto com as
espinhas expulsas por um tratamento de pele e a miopia exorcizada por uma
cirurgia ocular. Ainda como estagiário, ganhou o seu primeiro processo civil.
Primeiro de muitos. Aos quarenta anos de idade venceu o milésimo processo por
danos morais.
A
beleza já voltara quando casou-se com Sofia, sua primeira namorada fixa. Na
adolescência, feio como era, não ousou paquerar ninguém. Mesmo assim,
conquistou Orlaine Regina, a empregada de sua casa que era dentuça, queixo
pontudo, nariz rebaixado e olhos fundos. Claro que Victor fugia dela. E mais
uma vez se saiu vencedor.
Tão
logo livrou-se das espinhas e do óculos virou um galã de cinema.
Um
conquistador nato. Sofia foi apenas a vigésima moça bonita que passou pelo seu
currículo, digo, seu caminho. Com ela teve duas filhas: Laureane e Vitória.
Comemorava
o seu aniversário de quatro décadas e meia quando veio a sua primeira derrota. No
campeonato entre amigos de futebol society
perdeu a sua invencibilidade de goleiro. Mas isso não abateu Victor. Ele não
jogava desde quando saiu do ensino médio. Seu time ganhou por 4 a 1. Um mês depois, levou
três gols e o inédito duplo revés: o jogo e o torneio. Mas isso não o abateu.
Victor
perdeu a sua invencibilidade profissional anos depois. Era um julgamento
difícil. Atuou na defesa de um fazendeiro influente que matou um inimigo
político a sangue frio. Mesmo com sua competência e a tendência da justiça do
país, o réu foi condenado por unanimidade não só por homicídio, como também por
grilagem de terras. Mas Victor ainda não se abateu.
Por
causa das ameaças do ex-cliente, mudou-se com mulher e filhas para a fria
Noruega. Lá, mesmo casado, encantou-se por Danika, uma bela nativa de olhos azuis
cor do mar e cabelos pretos nanquim, pele branca como neve e amiga de Laureane,
a filha mais velha adolescente. Perdeu também a invencibilidade de conquistador.
Desta vez, Victor se abateu. Literalmente com roleta russa, que acertou o alvo na
primeira e última tentativa.
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