PERMISSÃO

Por Ed Santos

1982. Eu tinha 14 anos na época. Lembro que nossa diversão era jogar futebol e dançar. O futebol era sagrado aos sábados. Íamos à quadra da escola em uns vinte. Lá escolhíamos as equipes, sempre a partir dos goleiros. Tudo no par ou ímpar.  Dois times jogavam e dois ficavam “de próximo”. Vez por outra, chegava mais gente e eram montados mais times. Todos participavam. As partidas duravam 10 minutos, quem vencesse permanecia na quadra e disputava outra partida. Em caso de empate, permanecia em quadra o time que havia vencido a partida anterior. Não era de se estranhar em alguns casos, que os times mais fortes ficavam em quadra o dia inteiro. E isso era um problema.

        Naquela época a gente precisava de autorização dos pais pra sais de casa, não importava onde, a que horas e com quem. Tínhamos que pedir permissão. Agora imaginem a turma toda sair de casa para jogar futebol pela manhã e voltar no final da tarde? Era isso que acontecia. Imaginem, só como era difícil convencer os pais que “a gente tava jogando” até agora? Se pra jogar futebol era assim imaginem então como era difícil ir ao cinema, ao parque, aos bailinhos...

Era assim também quando a gente pensava em ir dançar. Domingo à tarde era o dia de ir no salão. Mas com aquela idade só pedindo pros pais. Lá em casa era assim: se eu quisesse sair no domingo, tinha que pedir pra minha mãe. Se durante a semana eu tivesse me comportado bem, com certeza ela me deixava sair. Dependendo da situação ela falava: “Fala com seu pai, se ele deixar...”. Nunca pedi nada pro velho.

Foi assim por muito tempo, até quando eu comecei a trabalhar. Aí, mais responsável (sé é que sou), já tinha meu dinheirinho, podia pegar condução, pagar minhas entradas e fazer “uma presença” pro pessoal. Mesmo assim, ainda tinha que pedir pra sair. Nessa época já ia nos bailinhos aos sábados, à noite, depois de passar o dia inteiro na quadra jogando. Era legal que naquela época a turma, quando não tinha lugar nenhum pra ir, inventava de fazer um baile na casa de algum sortudo. Era só avisar o povo que por volta das oito da noite a garagem ficava cheia.

Quando a gente demorava pra chegar em casa no sábado, ir na matine do domingo era praticamente impossível. Lembro da minha mãe dizendo: “Pode ir, mas volta as 23h00. Se chegar aqui 23h01, não sai amanhã”. Eu sempre chegava 22h40, 22h50.

Hoje vejo que as coisas mudaram. As baladas atuais começam no horário que eu chegava em casa, e o pessoal, provavelmente nem avisa os pais. Acho que a questão do respeito e da autoridade se perdeu um pouco e foi substituída pelo excesso de liberdade pregada pela moderna e atual administração familiar. Uma pena.

        Minha mãe primeiro avisava pra não sair da linha. Depois corrigia. Ela falava: “Eu disse que não era pra chegar tarde, né? Então agora você vai apanhar pra ver se aprende e obedece. Vai lá no armário e pega a cinta do teu pai pra eu te dar uma coça! E não corre porque se você correr, quando você voltar você apanha mais ainda!”

        Você acha que eu corria? Nunca quis ver pra crer. Não sou São Tomé!

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1 Comentários

Anônimo disse…
Agora olho pela janela do tempo vejo como era gostoso mesmo com a proibição dos pais tinho gosto de liberdade quando os nossos pais liberava para gente sair. hoje esta liberdade será que é boa onde sabemos que as vezes são experiéncia muito amerga para a juventude. é inegavel que todo jovem deve viver fatos para ter experiéncias.