PAULO E LEILA

Por Ed Santos

     Desceu as escadas e trancou a porta. Depois saiu andando pela calçada como de costume.

 Entretanto naquele dia, por ali, não havia nenhum sinal de vida. Por um instante parou e ouviu apenas o silêncio. Não podia ouvir sequer, o som de alguém respirando. Só ouvia o nada.

Nenhum carro em movimento, nenhum menino no farol, nenhuma loja, farmácia, bar aberto. “Que merda aconteceu?”. Saiu correndo de volta pra casa e cobriu a cabeça com o edredom antes mesmo de deitar-se. Nem percebeu que a Leila não estava por ali, e voltou a dormir. Inexplicável como ele conseguia dormir assim com tanta facilidade diante de um fato tão estranho, diante dos acontecimentos, se assim se pode dizer, pois nada estava acontecendo, literalmente. Agarrou no sono mesmo assim. Profundo.

Seus olhos são abertos instantaneamente quando o relógio desperta. Ele houve uma música ao longe até dar aquele sopapo, e jogar o emissor ao chão. Teve um espasmo: “Como o rádio ta funcionando? Tem alguém lá pra botar a música!”.

- Levanta preguiçoso! Esqueceu que tem prova hoje?

- Leila! Leila! Você ta aí?

- Que foi? Teve pesadelo?

- Foi horrível. Eu tava sozinho na cidade, não via ninguém, nenhuma alma penada! Fiquei aterrorizado Leila!

- É stress. Cê tá estressado!

- É. Pode ser.

- Então levanta vai, que eu também tô atrasada.

- Cê vai sair?

- Vou na minha mãe.

- De novo? Que tanto cê vai lá?

- Ela me ligou!

- E daí?

- Daí que ela é minha mãe, ué!

- Tá bom sua mal educada. Vou pra minha aula que eu ganho mais. E trata de se cuidar por que se eu tô estressado, você deve saber o motivo né?

- Vai à merda Paulo!

- Que?

- É isso mesmo! Você acorda depois de um pesadelo idiota e fica aí todo nervosinho, e minha mãe é que é culpada?

- Leila não fala besteira.

- E tem mais, depois que você entrou nessa faculdade ficou assim todo esquisito. Que foi? É alguma mulher que te tira a atenção na sala de aula?

- Não viaja.

- Não viaja? Se orienta rapaz!

- Cala a boca Leila!

- Você é um idiota.

- Leila...

- Que foi? Vai querer me bater? Só falta isso agora!

- Tchau, vou sair.

Ele desceu as escadas e quando chegou à porta, o tiro acertou suas costas. Sua mão continuava na maçaneta.

Queria se livrar daquilo tudo e ir pra rua, sair pra encontrar alguém, e fazer sua prova. Pena que a cidade estava vazia e o silêncio, mortal. Nem o som da respiração se ouvia. Nem o som da sua própria respiração.

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