CADERNINHO DE IDÉIAS

Por Gustavo do Carmo

Quando eu decidi ser escritor, a primeira coisa que eu escrevi foi um conto de cinco laudas que contava a história de um jovem universitário que tentava se matar e foi salvo por uma jornalista que o empregaria anos depois. Tinha o título de Após a Decepção. Isso foi em 1998.

Depois comecei a escrever uma segunda história, que acabou se estendendo para um romance. Tive outras idéias. Mas faltou vontade. Vieram alguns problemas pessoais e eu precisava terminar a faculdade de jornalismo. Além disso, me dediquei a transformar o primeiro conto Após a Decepção no romance Notícias que Marcam (título parecido com o eu cheguei a usar no conto, só que no singular), que eu publiquei no ano retrasado.

Na penúltima Bienal do Livro, em 2005, o Globo Online lançou um blog voltado para novos autores que podiam ter seus textos publicados. Isso me motivou a voltar a escrever. Nasceram os contos Indecisos e Os Seios da Minha Namorada. Pena que não foram publicados no tal blog. Eram muito grandes. Para os padrões deles. Porque para mim já eram suficientes. Suficientes para se tornarem os meus favoritos e me incentivar a me dedicar de vez aos contos.

Ainda me lembrava das antigas idéias e outras surgiram. Fui escrevendo mais contos, já depois do lançamento do livro. Enquanto eram poucas e eu não chegava aos trinta anos dava para guardar na cabeça. No final de 2006 entrei em uma oficina literária na Cândido Mendes e a partir de então, me motivei a escrever ainda mais. Por conta disso e pela necessidade de reservar a minha memória para coisas do dia-a-dia, ficou impossível guardar na cabeça todas as idéias que chegavam. Então recorri a um hábito que todos os escritores fazem: anotá-las num caderno.

Passei a levar um pequeno caderno e uma caneta em qualquer lugar que eu ia. Principalmente ao shopping, quando esperava a minha irmã sair do cabeleireiro ou acompanhar a minha mãe na fisioterapia. Mesmo se eu tivesse que segurar o caderno na mão. Não cabia no bolso. A não ser o da jaqueta. Mas não fazia frio todo dia. As idéias vinham sem querer e eu precisava do caderno por perto para não perdê-las. Algumas não tiveram a mesma sorte. Quando tinha a oportunidade de anotar já haviam sumido da memória. Em um ano e meio preenchi um caderno inteiro. Comecei outro. Agora acredito que tenho idéias demais. Para contos.

Porque agora decidi escrever crônicas como esta. Até então eu era resistente às narrativas do cotidiano. Mas me rendi ao gênero. As idéias vieram devagarzinho e mais uma vez precisei anotá-las para dar conta. Este tema, aliás, já é o segundo da lista do caderno. O primeiro deu origem à crônica Transporte Solidário Carioca. Quem sabe eu passe a escrever poemas e comece a anotar as idéias? Uma coisa é certa: vou começar a anotar os assuntos que eu tenho para conversar com os amigos, os sites que eu preciso visitar e as tarefas que eu preciso fazer. Porque a idade também está aumentando e isso é mais um motivo para recorrer ao caderninho de idéias.

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2 Comentários

Ed Santos disse…
Amigo, tenho a impressão de já ter lido esse texto... mesmo assim, bem vindo ao estilo. (sic!)
Anônimo disse…
Você escreve muito bem crônica, tem uma ironia iteligente.